sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

MISSÃO IMPOSSÍVEL: PROTOCOLO FANTASMA (2001), de BRAD BIRD - 20.12.2011

Neste 4º filme da série Missão Impossível, Ethan Hunt (Tom Cruise) está de volta com uma nova equipe (Paula Patton - Jane; Jeremy Renner - Brandt;  Simon Pegg- Benji).
O filme inicia com a morte de um agente do IMF - Hanaway - que obtivera em Budapeste uns papeis - códigos para detonação da bomba atômica russa - que logo após ter tido êxito em sua missão, é interceptado por uma assassina de aluguel. O destino dos papeis aparentemente é um tal de Cobalto- de identidade inicialmente não sabida.
Hunt preso na Sérvia - se não me engano -  por razões desconhecidas, e seus companheiros fazem uma missão de resgate, para retirá-lo da cadeia. Ele escapa e leva consigo um russo, que, igualmente, não tem função definida no filme nesse momento.
Surge então a missão a ser aceita, em vídeo que se autodestruirá em cinco segundos - há uma boa piadinha com a tecnologia dos países do leste europeu (a mensagem não se destroi sem uma ajudinha de Hunt) - ir ao Kremlin e fazer contato com Cobalto.
Na invasão ao Kremlin tudo ocorre aparentemente bem, mas os arquivos que possibilitariam a identificação do inimigo sumiram. Com uma interceptação na comunicação de rádio, Cobalto põe os russos em alerta contra Hunt e seus companheiros, explode uma parte do Kremlin, e com essa tática diversionista, consegue furtar uma maleta de controle dos mísseis soviéticos.
Os russos passam a perseguir incansavelmente os agentes americanos, acreditando que eles estão por trás da explosão da sede do governo russo, e a crise entre os países chega a um patamar, segundo o chefe do IMF, equivalente à crise dos mísseis em Cuba. Uma guerra nuclear é iminente. O Governo, por responsabilizar os agentes Hunt e sua trupe pelo incidente diplomático, aciona o Protocolo Fantasma - que significa que o IMF está dissolvido, e os agentes não terão mais qualquer apoio governamental. Estão por si sós, e se falharem na missão de consertar o estrago, serão apontados como os terroristas causadores do incidente, e punidos nos EUA para dar uma satisfação à comunidade internacional, e principalmente, aos russos. 
Então iniciam um périplo por Dubai e Índia, para perseguição a Cobalto - que descobrem ser um gênio sueco de nome Hendricks que pretende a guerra nuclear pois acredita que ela seja a solução para o planeta, reiniciando a vida após a sobrevivências dos mais fortes ou mais capazes.
Em Dubai, haverá a troca entre diamantes pagos por Hendricks e os códigos de acesso para o ataque nuclear, que estão em poder de Sabine, a assassina contratada para matar Hannagan e vender os códigos a Cobalto.
Em cenas muito bem feitas no Burj Khalifa - edifício de 800 metros de altura em Dubai - Hunt precisa escalar o edifício apenas com umas luvas aderentes, que falham parcialmente, para alcançar o mainframe do edifício, para, então, conseguir controle dos elevadores, sistemas, para conseguir ludibriar as duas partes (Cobalto e Sabine) engajadas no negócio de compra e venda dos códigos de acesso. Contando também com a sorte, mas não só com ela - eles conseguem camuflar os quartos, e com Jane fazendo-se passar por Sabine para se encontrar com Cobalto, e Hunt e Brandt se fazendo passar pelo comparsa de Hendricks e pelo criptógrafo que asseguraria a veracidade dos códigos.
Feita a troca, Sabine é morta, mas Hendricks - ajudado por uma tempestade de areia - efeitos especiais bem feitos - consegue escapar de Hunt. Hendricks, a essa altura, já tem em seu poder a maleta atômica, os códigos para o disparo, faltando apenas efetuar o lançamento.
Na Índia, será a finalização do golpe. Hendricks (Cobalto) usará um antigo satélite militar russo, hoje em uso por um conglomerado de mídia, reprogramando-o a fim de poder dar a ordem de iniciar o ataque nuclear contra uma cidade americana (San Francisco), usando de sua maleta roubada no Kremlin e dos códigos obtidos de Hanagan.
Hendricks consegue lançar o míssil, reprogramando o satélite para que ele volte às suas configurações iniciais - a de satélite militar russo - e com os códigos, consegue confirmar com o submarino russo a ordem de lançamento - embora a equipe do IMF tente, não consegue obstar o lançamento, e só resta que se impeça a detonação da bomba em Los Angeles, e fisicamente, ou seja, Hunt precisará tomar a maleta das mãos de Hendricks para abortar o início da guerra da destruição total.
Em um estacionamento automatizado, num combate físico, Hunt consegue, após muitas dificuldades, tendo que jogar um carro muitos  metros contra o concreto, e torcendo para que o airbag o salve, abortar a missão, enquanto seus companheiros trabalham na restauração dos sistemas do satélite, para que Hunt possa gritar ao final, "mission acompplished". 
Nem falei muito do russo da cadeia, que levou Hunt a descobrir como seria feita o lançamento, com o uso do antigo satélite militar, ao tratar com um comerciante de armas; ou do agente russo que persegue Hunt desde a Rússia até a Índia, sem acreditar que ambos estavam do mesmo lado contra um terrorista avulso; ou de Brandt, agente do IMF que por ter sido malsucedido em uma missão de campo foi trabalhar nos escritórios, como analista, e sempre precavido com Hunt porque sua missão seria a de garantir a segurança de Hunt e sua mulher, e teria falhado em tal missão.
Ao final, com o IMF já restabelecido, e com os agentes reunidos em São Francisco, Hunt revela a Brandt que a morte de sua mulher na Sérvia foi forjada, ela está viva, e que a causa de sua ida à prisão - a morte de sérvios em missão não autorizada - fazia parte de um plano para se aproximar do tal de Cobalto. 
Hunt vê sua mulher, de quem se separou para protegê-la, e ela o vê, acenando de longe para ele. Quando ele deixa o pier, já começa a receber a nova missão, o que indica que veremos novos filmes da série.


Nota IMDB - 7,9. Acho que ainda baixará um pouco, são as notas da semana de estreia nos cinemas. Mas é um filme de ação bastante interessante.

LAURA (1944), de OTTO PREMINGER - 22.12.2011

Mais um film noir a que pude assistir no TCM. Este Laura, de Otto Preminger (diretor também de Anatomia de um Crime), segundo apurei por aí, é um dos filmes que iniciaram esse estilo que ficou conhecido como filme noir, denominação vinda da crítica francesa do pós-guerra.


O detetive Mark McPherson (Dana Andrews) começa a investigar o assassinato de Laura Hunt (Gene Tierney), e se vê às voltas com  Waldo Lydecker (Clifton Webb), um jornalista afetado, contudo sagaz e com grande trânsito na sociedade, Shelby Carpenter  (Vincent Price) e Ann Treadwell.
Todos conheciam Laura e poderiam ser o assassino, embora todos a defendam, a tenham como uma grande mulher. 
Waldo, um escritor/jornalista foi quem a conheceu como uma designer ou publicitária que iniciava sua carreira, e que foi lhe pedir um favor para dar um impulso em sua atividade profissional. Desse primeiro contato, Waldo passa a conviver com Laura, ajudando-a muito, apresentando a potenciais clientes, passando a ser alguém que ajudava a criar a nova Laura, escolhendo suas roupas, evitando relacionamentos pouco interessantes - embora Laura tivesse uma queda por homens de muitos músculos e pouco cérebro. Esta se relaciona com um pintor (Jacoby) e com Shelby, contra a vontade de Waldo, tendo ele obtido sucesso em desfazer o primeiro relacionamento, escrevendo um texto demolidor sobre o pintor. Contra Shelby, não obtém o mesmo sucesso.
Shelby é um ex-proprietário de terras, sedutor, cheio de mesuras para as mulheres, e assim consegue sua atenção. Ele tem um caso com uma modelo (Diane Redfern) da agência da publicidade de Laura, onde Shelby também trabalha porque Laura lhe arranjou um emprego.
Ann é uma amiga - aparentemente da alta sociedade nova-iorquina - de Laura que está apaixonada por Shelby, que a rejeita por Laura
Até aqui Waldo é a principal testemunha, é quem conversa com Mark contando os detalhes da vida de Laura, para permitir saber quem teria motivos para matá-la.


Quando na metade do filme, em que Laura aparece viva, enquanto Mark McPherson buscava saber quem a matara, a trama tem a reviravolta. Mark a essa altura já andava encantado com as qualidades que eram a atribuídas a Laura já cai de amores por ela. A investigação muda de rumo, pois viva Laura, agora Mark tem de descobrir quem morreu em seu lugar (e portanto se Laura não foi a assassina) e em seu apartamento.
As investigações prosseguem com alguns suspeitos surpresos (Waldo e Bessie - a empregada de Laura), outros nem tanto (Shelby) quanto ao ressurgimento de Laura, que explica que apenas tinha saído por três dias para sua casa de campo, para ficar sozinha e pensar (sabemos por conversa dela com Mark que para pensar no iminente casamento com Shelby - de que acaba desistindo), embora, como dito, esse desaparecimento também a torne suspeita.
Agora, Laura em vez de Waldo passa a ser quem, em conversas com Mark, lidera a investigação. Descoberto que a morta era uma mulher fisicamente parecida com Laura, logo chegam à conclusão de que alguém que estava no apartamento da morta-viva foi assassinada por engano, e por fim se descobre que a amante de Shelby, a modelo da agência de publicidade - Diane Redfern, é que morta por engano com uma espingarda de grosso calibre que desfigurara seu rosto, apenas por estar em casa de Laura acompanhando seu amante Shelby, usando as roupas dela, enquanto a dona da casa, em verdade, estava no campo. 
A procura pela arma, então, tem início. 
Mark, por pistas meio desconexas, primeiro vai a Shelby (pois este teve acesso a uma arma na casa de campo de Laura), acusa Laura, mas apenas (atenua sua desconfiança quanto a ela porque já apaixonado) para lhe interrogar sobre o real motivo do sumiço de três dias exatamente no dia dos crime, e por fim chega a Waldo, que tinha essa fixação por Laura (na verdade tudo indica que Waldo fosse homossexual, por sua afetação, mas principalmente por uma fala em que ela lhe diz que o estereótipo de homem com que ela se relacionava era o mesmo que interessava a Lydecker), e era como que seu mentor e ao mesmo tempo, protetor.
Waldo afirma que Laura era a melhor parte dele - ela a construíra, sua carreira, sua elegância, seu relacionamento assexuado com ele mesmo, e ele não poderia permitir-se perdê-la, ou que ela se juntasse a alguns homens de poucas ideias é muitos músculos. Ele dizia nem conseguia imaginar tal cena. 
Mark, com base em tais fatos e na circunstância de que Waldo dera a Laura um relógio de coluna gêmeo, igual ao que ele tinha em sua casa, e que tinha um fundo falso, encontra a arma que incriminaria o jornalista, mas (estranhamente) deixa a prisão para o dia seguinte, e na saída beija Laura, selando o novo amor.
Nesse ínterim, Waldo que até há pouco estava com Laura em seu apartamento e fingira deixar o prédio, escondendo-se no corredor, se esgueira para dentro do apartamento e então pega a arma dentro do relógio, explica para Laura por que vai matá-la - aquela parte ali acima, dela ser a melhor parte dele - e então pensamos em dúvida:  vai matá-la por ciúme dela ou por ciúme dos homens com que ela se relacionava, ou apenas por vaidade - quando é interrompido pelos policiais, haja vista que o guarda que fazia a vigilância da causa de Laura diz a Mark que não viu Waldo deixar o prédio.
Na troca de tiros, Waldo é alvejado, e acerta seu tiro no relógio-gêmeo de Laura, metaforicamente quebrando o vínculo que os unia. Enquanto agoniza, Waldo revela seu "amor" platônico por Laura: good-bye Laura, good-bye my love".


Filme de bom roteiro, malgrado algumas conclusões meio inacreditáveis por parte do Detetive McPherson, mas sem dúvida um filme grandes falas, rápidas, espertas, mordazes, sem preocupações politicamente corretas, que dão grande prazer de serem assistidas, sem clemência com pessoas chatas, redundantes, burras (frases quase sempre de Waldo). O charme barato dos galanteios de Shelby; as dúvidas de Mark, mas sua perspicácia e tranqüilidade, os questionamentos de Laura (ficar com Shelby que a trai, ser fiel a Waldo, que a "construiu", ficar com o novo amor?). Um whodunit mas também um Who's the victim. Filme bastante bom. 


Nota IMDB - 8,2. Não gostei tanto assim, embora tenha me divertido bastante, mas a nota é merecida.

sábado, 17 de dezembro de 2011

OS CORRUPTOS (1953), de FRITZ LANG - 25.11.2011

Dei sorte em assistir a dois filmes de Fritz Lang quase em seqüência: Fúria e esse "Os Corruptos" - The Big Heat, algo como "a grande cólera, a grande exaltação, a grande ânsia". Estou por assistir um terceiro, "O grande segredo", um filme de espionagem durante a II Guerra.

Um policial - Duncan - se suicida e deixa uma carta para a promotoria, cujo conteúdo é por ora desconhecido (saber-se-á ser a confissão de sua corrupção, vendido a Lagana). A esposa do morto recolhe a carta e liga para Mike Lagana (Alexander Scourby) para dar a notícia do suicídio - e sabe-se depois, para dizer que ficou com a carta suicida e quer dinheiro para não entregá-la a quem quer que seja. Logo se vê que Lagana é bandido, e este liga para Vince Stone (Lee Marvin), um capanga para que esse cuide da situação - ou seja, pague a viúva para que esta fique quieta.

David Bannion (Glenn Ford) é o policial encarregado da investigação, inicialmente simples, e que tudo leva a crer na confirmação da hipóstese de suícidio. Ele interroga a Sra. Duncan que, dissimuladamente, diz nada saber sobre o porquê da morte (embora tenha ocultado a carta suicida).
Porém, já em sua casa, Bannion recebe a ligação de Lucy Chapman, que se dizia amante de Duncan, afirmando que este não tinha razão alguma para cometer suicídio, e que tal fato era impossível. Bannion volta à casa da viúva, e a partir daí começa a sofrer grande pressão para parar de investigar o caso, principalmente de seus superiores na corporação policial (quase todos corruptos, mas alguns terão direito a uma redenção no final, ao resolverem finalmente auxiliar Dave em sua cruzada), recebe ligações anônimas em casa, e por causa disso vai tomar satisfação com Lagana.

Logo em seguida, Lucy é morta. Como mesmo assim Bannion não cede às pressões, arma-se-lhe um atentando à bomba que, por equívoco, vitima sua meiga e devotada esposa Katie (Jocelyn Brando). Sua filha vai para a casa de parentes. A partir daí, Bannion entra numa missão pessoal em que intenta, além de descobrir quem foram os responsáveis pela morte de sua mulher (e não mais apenas as razões que levaram à morte de Duncan), encontrá-los, puni-los, mesmo contra sua corporação (da qual pede dispensa), e não medindo conseqüências (Bertha Duncan, Katie e Debby serão mortas no caminho).

Bannion se aprofunda na investigação, chega aos capangas de Lagana, principalmente Stone (vivido por um jovem Lee Marvin), que é o namorado de Debby (Gloria Grahame - vencedora do Oscar de Atriz Coadjuvante por Assim Estava Escrito). Ao confrontá-los em um bar, em uma briga, Bannion defende uma mulher agredida por Stone, e o manda sair do Bar. Debby continua no bar e acompanha Bannion quando este deixa o lugar, inclusive tenta seduzi-lo - no que se frustra, até pela recente viuvez, embora Bannion tenha titubeado, mas é vista por um dos companheiros de Stone.

Quando Debby volta para onde mora com Stone e mente para ele sobre sue paradeiro naquela noite, o escroque joga café quente em Debby, deformando seu rosto. Debby, mostrada como fútil, preocupada com dinheiro, drinques e roupas (embora já tivesse demonstrado perspicácia, ao fazer piadas com a subserviência do forte Stone ao boss Lagrana), fica então revoltada, muito porque perdeu sua beleza. Ela, então, se engaja na vingança-investigação de Bannion. E continua a dar mostra de sua esperteza, ao comentar que agora que tem um lado de seu rosto deformado, poderia viver "de perfil". Ela revela a Bannion quem colocou a bomba que matou a mulher do detetive- Larry Gordon, um dos capangas de Lagana - e este lhe confessa tudo - a corrupção de Duncan, e a circunstância de a viúva não ter dito nada, para assim receber grana de Lagana para ficar quieta. Bannion poupa Gordon, alertando-o de que dirá que ele dedurou seus companheiros, o que lhe deixará em má situação.
Bannion uma vez mais vai à casa de Bertha Duncan, e conta a ela o que sabe - a morte de Duncan, a custódia dos papéis, a propina para ficar calada. Esta tripudia, pois estará em boa situação financeira, e a salvo, com a proteção de Lagana
Mas, alerta Bannion, se ele mesmo a matar, tudo cairia por terra, e virá the "big heat" - título do filme em inglês - um turbilhão, uma agitação para Lagana e para todos de sua trupe, pois com ela morta, a carta-denúncia de seu marido viria à tona.
Novamente com Debby, David Bannion insinua que esta deve matar Bertha Duncan, dizendo que ele mesmo quase a matou, e que deveria tê-lo feito. Debby resolve acatar a "sugestão", e vai a casa de Bertha, e a mata para incriminar Stone e Lagana
Falta ainda Stone, com quem muitos tem uma conta a acertar. Debby entra no apartamento dele, e retribui a jarra de café fervente no rosto de seu ex-amante, e revela que já deu jeito em Bertha, o que exporá definitivamente o grupo criminoso de Mike Lagana. Stone atira em Debby, e esta fica entre a vida e a morte.
Após tiroteio e perseguição, Bannion prende Stone, recusando-se a simplesmente matá-lo, pois deseja vê-lo apodrecido na prisão.
Há o diálogo final entre Debby e Bannion, ela se queixa novamente da perda da beleza (mesmo que moribunda), e quando Dave passa a falar de como era sua esposa, Debby morre.
Na repartição, de volta à polícia, tudo de volta à normalidade, como se fosse possível alguma normalidade depois de tudo o que houve.


Nota IMDB - 8. É por aí mesmo, na minha opinião, pois se trata de um filme muito bem acertado, um roteiro exemplar, uma boa atuação de Glenn Ford, de quem pouca coisa vira até então. Bela fotografia em preto-e-branco. Muito bem filmado, um filme sem qualquer ponta solta, um filme curto mas que dá muito o que escrever, tanta coisa que acontece, e tudo tão bem amarrado.

SEU ÚLTIMO REFÚGIO (1941), de RAOUL WALSH - 17.12.2011

O primeiro filme em que o grande Humphrey Bogart foi protagonista. Ele vive Roy Earle, um assaltante de bancos que é solto após 8 anos de prisão (e atormentado por essa sensação de privação de liberdade, que o fez tentar fugir por várias vezes e até sonhar com as fugas e a liberdade, tendo pesadelos por não ser livre), por um indulto, comprado por Big Mac (Donald McBride), que passa a ser seu "chefe", e para quem ele deverá fazer um assalto em Sierra Nevada, em uma hotel.
Chegando à Califórnia, não sem antes passar por seu interiorano Estado de origem (Indiana, talvez) e conhecer uma família de pobres que perderam sua propriedade e estão migrando para morar de favor na Califórnia, ele tem de esperar alguns dias até que a estação das férias chegue, e os ricaços estejam lá para serem roubados. Ali, Marie (Ida Lupino), Red (Arthur Kennedy) e Babe (Alan Curtis), que serão seus comparsas.
Ali ele já antevê problemas, pois são todos "bandidos de primeira viagem", e Marie, a mulher, é a menos incapaz de todos, considerando-se ainda que Red e Babe tem uma queda por Marie, que foi tirada de um bar de dançarinas por Red. Ademais, há um toque tragicômico trazido por Algernon (um negro que trabalha na hospedagem) e seu cachorro Pard - que se afeiçoa a Earle, e que segundo Algernon, a companhia do cão é um prenúncio da má sorte.


Nesse aguardo, Roy se aproxima daquela família de interioranos que conheceu Pa (Henry Travers - o anjo de Felicidade não se Compra), os ajuda em pequenos problemas e acaba se apaixonando pela coxa - Machado de Assis usou muito bem essa figura da aleijada - Velma (Joan Leslie). Earle vai ajudá-la a reparar esse aleijão, como ser verá adiante. 
Na realização do assalto, tudo dá errado. Earle se vê obrigado a matar um policial e, na fuga, o carro em que Babe, Red e Mendoza (the inside man, aquele que trabalhando no hotel dos ricaços daria a dica sobre o dia do assalto) sofre um acidente e somente Mendoza sobrevive - exatamente quem que irá delatar Earle.
Ademais, Big Mac, que seria o receptador das jóias, adoentado, também morre antes de fazer o pagamento para Roy, ficando este com as jóias avaliadas em meio milhão de dólares, mas sem seu pagamento de 30 mil, com o que pretendia se aposentar da vida criminosa.
Bogart é foda!
Marie vai se apaixonando por Earle, um bandido, rude, firme, mas afável, inteligente, que ajuda o outro, muito embora este esteja enamorada de Velma, não obstante Pa o tenha avisado de que Velma está caída por alguém da  cidade que deixou para  trás. Roy chega a pedi-la em casamento.
Com o cerco da perseguição policial se apertando (até as fotos de Earle já estão no jornal), Earle vai até Velma, mas esta, já recuperada da cirurgia paga por Roy, e não mais uma aleijada, o dispensa com grossura, já acompanhada de seu antigo amor, todos bebendo e comemorando, pouco se importando com o que Roy fez por ela.
Roy então cede às investidas de Marie (fica com o amor que afinal, lhe parece possível?), e decide com ela começar a nova vida. Tudo faz parecer que a história vai se encaminhar para um desfecho feliz, inclusive com o novo receptador já pronto a pagar a recompensa pelo roubo realizado, quando o cerco se fecha definitivamente, Earle é reconhecido e localizado. 
Roy coloca Marie - salvando-a, portanto - em um ônibus para Vegas, e vai tentar pegar o seu dinheiro, embora já imagina que seja praticamente impossível fugir ao cerco, anunciado nas rádios, publicado nos jornais.
Ele, sozinho, sem dinheiro (dá todo o que tem para Marie) e com pouco combustível, empreende uma fuga automobilística insana, impossível, com toda a polícia em seu encalço, até que chega em determinado ponto em que não mais pode prosseguir com seu carro, e se refugia, a pé, na Sierra Nevada, especificamente no sopé do mais alto pico dos EUA. 
Cercado, e já há algumas horas, Marie escuta no ônibus a notícia da emboscada, e volta para onde Earle se encontra encurralado. O cerco se prolonga, há um atirador tentando contornar o refúgio de Roy para matá-lo, Marie se recusa a falar com Earle para que ele se entregue. Quando Roy responde a um ultimato policial com um "venham me pegar", Pard reconhece sua voz e vai em sua direção, o que o faz com que Roy deixe "seu último refúgio" ao compreender que Marie está por ali, permitido que o atirador o veja e o mate - e confirmando o mau agouro trazido por Pard.
Marie pergunta ao policial o que significa a expressão "a man crashes out" - expressão que Roy usava para falar de suas tentativas de fuga - e o jornalista que faz pouco caso do "big shot" Earle morto, responde, que isso significa que este homem é/está livre - o que afinal, parecia ser o mais importante de tudo para Roy.

domingo, 11 de dezembro de 2011

SANGUE DE PANTERA (1942), de JACQUES TOURNEUR - 10.12.2011

Mais um dos filmes de Jacques Tourneur, produzido por Val Lewton. Filme curto, de apenas 73 minutos, em que uma mulher de ascendência sérvia, Irena Dubrovna (Simone Simon) que mora nos EUA e logo se enamora de Oliver Reed (Kent Smith), mas tem medo de se casar com ele pois receia a maldição (lendária ou não) conhecida em seu país, de que após o país ser libertado dos mamelucos (guerreiros escravos) pelo Rei John, alguns maus indivíduos puderam escapar, e estes teriam assumido formas felinas, e assombravam as pessoas daquele lugar.
Casam-se, mas Irena pede um tempo (para consumar o casamento?, nem sequer beija seu marido; frigidez?) para Oliver, pois ela precisa ter certeza que  se livrou dos sentimentos malignos que a assombram. Mas os problemas não cessam, e Irena inclusive vai a um psiquiatra (Dr. Judd - Tom Conway), em que há mais algumas indicativos sobre o passado de Irena e sobre o que ela sente. Os gatos a atormentam, sente seus sussuros em sua mente, os gatos estão dentro dela. Ela foi criada apenas por sua mãe, pois seu pai teria morrido antes de seu nascimento em estranho acidente, e em razão desse fato, as pessoas acreditavam que sua mãe era uma bruxa, uma cat woman.  E que havia outras mulheres-gato na sua aldeia, que irritadas, ou com ciúmes, ou levadas por paixões (por isso evitava até os beijos em seu marido), poderiam matar.
Irena sabe e diz a Oliver que se ela viver feliz, não for perturbada por seu marido, se esse não a fizer sentir ciúmes, não brigar, então seu comportamento será pacífico, o instinto felino não se manifestará.
Logo, contudo, os problemas conjugais fazem Oliver se aproximar de uma colega de escritório, Alice (Jane Randolph) que diz amá-lo.
Irena então, já como mulher-gato assusta Alice em um clube, fazendo com que esta procure o psiquiatra e o psiquiatra vá até Irena, dizendo que ela deve esquecer o passado, livrar-se de tudo que lembre gatos ou panteras, e viver o presente.
Ela decide acatar os conselhos de seu médico, mas quando Oliver chega em casa esse diz que já é tarde para tal mudança, e ele já ama Alice
Então vem o ataque da pantera. Irina/pantera ataca o casal Oliver e Alice no escritório em que estes trabalham, mas eles conseguem se salvar com um esconjuro religioso. 
Ela então ao seu apartamento, em direção ao médico, que está lá por estar interessado em Irena, e inclusive furtou uma chave para poder adentrar no apto, e o ataca mortalmente, mas é ferida pelo Dr. Judd.
Ela vai então em direção ao zoológico, às jaulas das feras - lugar que sempre frequentava, e onde começa o filme, e onde ela conheceu Oliver, solta um pantera, que logo é morta atropelada (Irena sonhara com alguém lhe ordenando soltar os demônios, deixar eles virem à luz do dia). Irena também morre em decorrência do ferimento infligido pelo Dr. Judd
Inácio Araújo diz que o filme trata das impossibilidades amorosas. Não só disso, me parece, mas de todos os demônios internos, de todos os medos, de todas as reações que podemos tomar quando sofremos algum ataque, quer de raiva, de ciúme, de paixões, ou mesmo, apenas das reações a que estamos sujeitos em algum momento em particular, em que somos demandados. E que temos o lado besta-fera ainda guardado, dentro de nós, latente, passível de um dia querer saltar para fora.
As impossibilidades amorosas, o desejo mas as repressões recíprocas, parece que o filme também fala disso (Irena dizia a Oliver quais eram seus medos, seus problemas). E esse amor que vai ficando impossível, chega ao final ao desfazimento, à incomunicabilidade absoluta.
Ou mesmo a vida, por ser Irena incapaz de se comunicar - ou de se relacionar - com quem quer que fosse, foi ficando impossível.
Nota IMDB - 7,5. Acho que é por aí, mesmo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

ASSALTO AO BANCO CENTRAL (2011), de MARCOS PAULO - 09.12.2011

Filme nacional baseado no assalto real ao BACEN de Fortaleza, com um grande elenco global, e dois atores de cinema (Milhem Cortaz e Hermila Guedes), mas que tem apenas o início da história como plausível, ou seja, o assalto. Todo o resto parece inventado com pouquíssima imaginação.
O filme me pareceu esquemático demais.
Eriberto Leão (Mineiro) está pouco convincente como um dos líderes do bando. Outro líder do bando é Milhem Cortaz (Barão) , que está dez vezes melhor como Capitão Fábio do Tropa de Elite como o Barão deste filme. Me parece que a direção de atores faz toda a diferença aqui. Padilha sabia para onde ir, Marcos Paulo parece que não.
Os demais bandidos também não têm nada de marcante. Gero Camilo (Tatu), Heitor Martinez (o ex-policial Léo), Hermila Guedes (Carla), Vinícius de Oliveira (o menino de Central do Brasil, que cresceu mal) como Denivaldo, Tonico Pereira (Doutor) - o comunista que ao final vai gozar o dinheiro em Paris - entre outros. 
Há ainda personagens que aparecem e somem sem qualquer lógica, como Antônio Abujamra, que fornece os mapas e formas de superar os alarmes e câmeras, Cassio Gabus Mendes e Daniel Filho, que fazem papéis que não nos deixam vislumbrar sua importância no assalto ou mesmo na trama do filme. 
Idas e voltas de roteiro, a investigação da Polícia Federal (as prisões e mortes de integrantes do bando) correndo em paralelo com a preparação e consecução do assalto.
Os policiais federais são caricatos, um intuitivo (Lima Duarte como Amorim), a outra tecnológica (Giulia Gam - Telma (eu não sou gay)). Um, conservador, a outra lésbica, com a revelação do lesbianismo repetitiva e constrangedora. Qualquer CSI de 30 minutos apresenta e resolve melhor questões como essas envolvendo policiais. 
A polícia vai solucionando o caso, não chegando, contudo, aos principais envolvidos.
Barão (Cortaz), aparentemente o mentor do golpe, não é capturado, embora na cena final Lima Duarte o veja e tenha um insight de que ele possa ser o culpado, mas como ele foi afastado do caso (!) e aposentado compulsoriamente (!?), por aparentemente por ter chegado perto demais de figurões - outra mensagem sem pé nem cabeça do filme, uma ilação sem respaldo no que visto ou demonstrado até então - partindo da premissa de que havia interesses e pessoas maiores envolvidas, e não apenas um roubo bem planejado por bons ladrões.


Nota IMDB - 5.8. É um filme nota 5, se tanto. Acho que 4 tá de bom tamanho. Filme ruim

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JOGO MORTAL (1972), de JOSEPH L. MANKIEWICZ - 07.12.2011

Esse filme cuja refilmagem de 1997 eu achei uma porcaria (e nem sabia que era uma refilmagem) é um filme de atores. 
Laurence Olivier (Andrew Wyke) e Michael Caine (my cocaine?) no papel de Milo Tindle travam um duelo mental inicial muito interessante.
Wyke é um bem-sucedido intelectual escritor de romances policiais, de mistério, e sabendo que Tindle é amante de sua esposa, o chama a sua mansão para, em princípio, convencê-lo a ficar definitivamente com sua mulher, porque agora, depois de tudo, ele quer mesmo é se ver livre dela.
Discutem muito sobre as mulheres, sobre os custos de manter uma mulher consumista, sobre as qualidades e defeitos da amante comum, sobre a existência de uma amante de Wyke que Tindle sabe existir, sobre a nobreza e a divisão de classes, sobre a diversão de mentes brilhantes - livros de mistério e mind games.
Como Tindle é pobre, um cabeleireiro filho de imigrantes italianos, Wyke o convence (após alguma resistência) a roubar as jóias de sua esposa até para custear a vida com sua amante, e logo eles, em comum acordo, iniciam a montagem da farsa para fazerem o crime perfeito (o disfarce, a invasão à casa, o revirar dos bens, as jóias em poder de Tindle, tiros a esmo e a briga entre os dois para dar a impressão de Wyke ter sido surpreendido). Desse modo, Tindle teria as jóias, a amante, e Wyke, o dinheiro do seguro das pedras.
Quando finalmente o "roubo" está encerrado, Wyke diz a Tindle que isso não pode ficar assim, que ele não pode tirar de um nobre a sua esposa - que afinal lhe "pertence", ainda mais sendo um latin lover de araque. Ele então dá um tiro na cabeça de Tindle e o mata.
Fim da primeira parte. Muito boa.


Na segunda parte do filme, o negócio desanda bastante. É quando do detetive Doppler chega à casa de Wyke para investigar o desaparecimento de Tindle, já sumido há dois dias.
O fato é que a maquiagem é muito simplória, e todos vemos que Michael Caine é o detetive (ou seja, Tindle não morreu). Conhecedor do proceder de Wyke (os tiros, a fantasia, o modus operandi do roubo), Doppler começa a desfazer toda a tese de que tudo não passou de um jogo, pois Wyke se defende dizendo que tudo ocorreu exatamente como ocorreu, exceto pelo tiro fatal, que segundo o romancista teria sido um tiro de festim.
Juntando um bilhete enviado por Wyke marcando o primeiro encontro, os vestígios na casa, a notícia do desaparecimento de Tindle, a cova rasa encontrada no jardim (cavada por Tindle), Doppler acaba por convencer Wyke que ele será condenado pela morte de Tindle.
Wyke já desesperado ao ver que seu jogo dera errado e não teria como provar que tudo não passara de um jogo intelectual, já se exaspera, quando Doppler revela que era na verdade, Tindle (ooohhh!).
Eles discutem um pouco, mas logo voltam a agirem como ingleses fleumáticos, um congratulando o outro pela habilidade nesses jogos intelectuais.
Fim da segunda parte. Fraca. Aqui a maquiagem teria de ter sido muito mais efetiva. Digamos que algo semelhante a feita em Christian Bale em "O Grande Truque", para que a revelação de que Doppler é Tindle tivesse algo de surpreendente.

No terceiro ato, digamos (já que estamos praticamente numa peça de teatro), Tindle é que passa a jogar com Wyke, dizendo que matou a amante deste, Tea, e vai lhe mostrando por A+B que isto ocorreu, e que já chamou a polícia, que chegará em 15 minutos para prender Wyke pelo assassinato de sua amante. Então o rato passa a ser Wyke, que neste tempo terá de encontrar algumas provas do crime para evitar que a polícia as encontre. 
Extenuado, humilhado, o romancista consegue encontrar tais vestígios e ao se preparar para receber os policiais com quem terá de lidar acerca do sumiço de Tea, e com quem se opositor já conversa fora da casa,  Tindle adentra sozinho na sala dizendo que mais uma vez tudo não passara de um jogo (do que todos já desconfiam a essa altura). Wyke, um homem inteligente e afeto a tais jogos não desconfiar disso, mesmo com as "provas" que Tindle lhe deu (um sapato, um meia, um telefonema para a companheira de quarto de Tea, um bracelete) da morte, beira a credulidade pueril.


Agora Tindle pensa ter dado o troco definitivo, e demonstrado que a inferioridade de classe não o fazia diferente intelectual ou pessoalmente de Wyke, e agora, com a lição dada, ele poderia se dedicar à sua amante, esposa de Wyke.
Este então, esquece dos jogos, chega de jogos, pois não se joga o mesmo jogo três vezes, diz Wyke, e mata Tindle, sentindo-se ultrajado em sua condição de intelectual e nobre.


O filme realmente só tem os dois (grandes) atores, mais ninguém, e o cenário é basicamente a mansão de Wyke, e principalmente, o salão principal da casa. O estilo é teatral (e o filme é baseado em uma peça de teatro), os diálogos são bastante bons, mas o filme é um pouco cansativo, e as reviravoltas, de tão comuns, já passam a ser esperadas pelo espectador, perdendo um pouco do frescor, e da novidade. 
Nota IMDB. 8,1. Dou bem menos, um 6,5.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A JÓIA DO NILO (1985), de LEWIS TEAGUE - 02.12.2011

Continuação de "Tudo por uma Esmeralda" - a que já assisti em alguma Sessão da Tarde, mas não me lembro porra nenhuma, Jack Colton (Michael Douglas) e Joan Wilder (Kathleen Turner) vivem numa boa, num iate há 6 meses. Ela, uma escritora de sucesso de romances água com açucar, ele, aparentemente, um bom vivant.
Omar, um africano poderoso faz um convite a Joan para que ela rume com ele para seu país e escreva a sua biografia. Ela, aceitando o convite, deixa Jack. Rapidamente o convite se transforma num seqüestro.
Enquanto isso, um outro africano, de um grupo tribal, encontra Jack e diz que Omar é perigoso, que Joan está em perigo, e que eles precisam ir para a África. Ademais, que é necessário que Jack o ajude a recuperar a "jóia do Nilo", a Al-Jawhara.
Omar pretende tomar o poder de seu país, unificando as tribos, e para isso precisa da tal jóia, que já está em seu poder, que faça o povo acreditar que ele tem poderes. Joan logo descobre que a jóia é, na verdade, um homem, um tipo de sacerdote.
Joan e a Joia fogem do quartel de Omar, e logo cruzam com Jack que está na Africa, e eles começam sua fuga, perseguidos por Omar. Todos querem rumar para Kadir, Omar para tomar o poder, nossos "heróis" para impedi-lo.
Alguns contratempos, uma perseguição com um F16 no chão, outra dentro de um trem, e todos chegam a Kadir.
Quando começa o show-comício, Jack e Joan, que a esta altura estão presos em uma armadilha, conseguem escapar, e frustrar os planos de Omar, por fim matando-o, e a Jóia, o sacerdote faz uma aparição e sei lá, pacifica seu povo.
No final, Jack e Joan, que viviam às turras, se casam.
Um filmeco. O roteiro não diz nada, a história é banal, não há qualquer explicação para o poder de Omar, como ele unificará as tribos, ou o poder de Al Jawarha, e como poderia impedir Omar, ou mesmo qual a sua importância social ou religiosa. Há algumas tiradas verbais interessantes, uma ou outra boa piada, mas nada mais do que isso. Uma seqüência caça-níqueis.

Nota IMDB - 5,8. É daí pra menos!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

FARSA TRÁGICA (1964), de JACQUES TOURNER - 21.11.2011

Mais um filme do elogiado Jacques Tourner (A Morta-Viva), esse com um elenco estreladíssimo, com Vincent Price, Peter Lorre, Boris Karloff e até talvez o mais tradicional todos os Sherlock Holmes (Basil Rathbone), vivendo um papel bastante diferente.
O filme começa muito bem-humorado, em um enterro em que os coveiros vividos por Vincent Price (Waldo Trumbull) e Peter Lorre (Felix Gillie), fingem sentimentos compassivos pela morto e sua família, agem de forma meio ensaiada, com expressões semelhantes, mas tão logo os convidados deixam o local, rapidamente despejam o corpo na cova, sem o caixão (para economizar a esquife), e tampam o morto em alta velocidade, com uma música apropriada a filme cômico e com imagem acelerada, para logo saírem dali e garantirem o lucro da economia de um caixão, ficando logo circunspectos na condução do carro fúnebre (evidentemente, para não passarem uma impressão "equivocada" sobre sua seriedade de agentes funerários).
É interessante como enterros dão um bom começo de filme ou, pelo menos, permitem o desenvolvimento de uma boa trama. Lembro-me, rapidamente, de "A Vila", em que o enterro permite dar a noção dos problemas da Vila - isolamento do mundo exterior; Enterro Prematuro, que permite explorar o terror de Ray Milland em ser enterrado vivo; O Homem que Amava as Mulheres, do Truffaut, que permite ver a influência de Bertrand sobre as mulheres, entre tantos outros: Enterrado Vivo, Frankenstein, de James Whale, por exemplo.
Os créditos inicias assemelham-se a créditos de um filme de faroeste, e uma música como se de vaudeville continuam a dar a nota de comicidade-horror que parece acompanhar esse filme.
Bem, o filme chama em inglês The Comedy of Terrors, ou algo como "A comédia do terror ou dos terrores", e o filme é mais cômico do que assustador, e bastante engraçado.
Trumbull (Price) e Mr. Gillie (Lorre), que trabalham juntos na casa funerária que Trumbull assumiu em lugar de seu sogro ancião, surdo e aposentado (Boris Karloff, que vive Amos Hinchley - a quem Trumbull tenta repetidas vezes matar, ministrando veneno), estão à beira da falência, e devem mais de um ano de aluguel a Mr. John Black (Basil Rathbone), e para conseguir algum dinheiro, precisam de clientes. Para consegui-los, vêem como única maneira passar a matar pessoas, por iniciativa de Price e contrariedade resignada de Lorre, para que seus serviços funerários voltem a ser necessários.
A primeira tentativa dá errado, porque embora consigam efetuar o assassinato, a viúva dá-lhes um golpe, e malgrado tenham que efetuar o enterro, não conseguem cobrar, pois esta foge com o dinheiro do defunto.
Então, resolvem, com uma só paulada, matar dois coelhos. Trumbull resolve matar o Mr. Black, para assim receber o dinheiro das exéquias bem como para se livrar de seu senhorio, de suas dívidas de aluguel.
O plano não dá muito certo porque Mr. Black teima em não morrer. Ele tem catalepsia, e então, por duas vezes, mesmo quando o dão por morto, ele acorda de sua letargia, uma dentro da casa funerária do Trumbull e Gillie, outra já em seu jazigo, do qual é retirado por Joe E. Brown (o ator que diz a famosa frase final de Some Like It Hot: "Nobody's perfect").
Paralelamente, a esposa de Trumbull - Amaryllis - uma cantora fracassada de ópera, a quem o marido trata terrivelmente mal, e diz só aguentá-la por causa da bebida - se aproxima de Gillie (que tem muita pena do tratamento a ela dispensada por seu patrão), para ao final, fugirem juntos. 
Mr. Black tem uma fixação por Shakespeare e recita incessantemente falas de Macbeth, inclusive a talvez mais famosa, que a vida não é nada além de uma sombra andante, um pobre ator sobre um palco, é um conto contado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada.
Ao fim, Mr. Black, adequando sua conduta às falas shakesperianas de vingança contra Macbeth, vai ao encontro de Trumbull para se vingar daqueles que tentaram matá-lo, ou mesmo sem matá-lo, quiseram enterrá-lo. 
Trumbull consegue defender-se de Black, dá-lhe tiros; asfixia sua mulher; fustiga Gillie com uma barra de ferro, e vê-se em problemas com aqueles "mortos" a sua frente, resolvendo fingir-se também de violentado, acossado por algum terceiro agente. Hinchley (Karloff) vê aquela cena, pensa que Trumbull está doente, e lhe ministra o veneno que por várias vezes seu genro tentara lhe impingir dizendo ser um remédio, e assim, Hinchley, querendo ajudar Trumbull, o mata.
Ainda há tempo para Black, mesmo alvejado por tiros, dar sinais de que ainda não morreu, enquanto Amaryllis e Gillie, efetivamente ainda vivos, seguem seu caminho.
Lorre, conhecido por personagens soturnos (M, o Vampiro de Dusseldorf, ou ainda O homem que sabia demais), está muito engraçado, com falas espetaculares. Price também brilha como o agente funerário sempre bêbado que trata mal sua mulher, seu sogro, sem empregado, e usa das expressões mais canastronas para dar graça a seu personagem, e falas maravilhosas para fustigar os que o cercam. Karloff está bastante contido como o velho surdo, mas tem também sua graça.
O filme começa muito bem, e dá uma caída mais para o final, mas se trata de ótima diversão.


Nota IMDB - 6,6. Para mim, valeu mais. Gostei bastante. Vale um 7,5. Engraçadíssimo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A MÚMIA (1932), de KARL FREUND - 20 e 21.11.2011

Este filme, de 1932, do qual conhecemos mais a refilmagem com Brendan Fraser (até porque passa quinhentas vezes por semana, enquanto este raramente pode ser visto na TV a cabo), é visto aqui em sua versão o original, em que Boris Karloff interpreta Imhotep, a múmia enterrada viva e ressuscitada com a leitura do livro que o traz à vida.
A produção de Carl Laemmle Jr, que produziu em três anos a trilogia dos monstros, Drácula, Frankenstein e este A Múmia. Karl Freund é o diretor, tendo atuado como diretor de fotografia de Metrópolis, Drácula, A Última Gargalhada, entre outros).
Uma expedição do Museu Britânico chefiada por Sir Joseph Whemple (Artur Byron) vai ao Egito e, em 1921, encontra um tesouro arqueológico espetacular, uma múmia em ótimo estado, aparentemente enterrada viva, e uma pequena caixa que contém uma maldição de morte e danação eterna para quem a abrir, e ali dentro, o Manuscrito de Tot, que contém as palavras de Ísis que ressuscitaram Osiris.
Mesmo alertados dos riscos daquela descoberta, o assistente do chefe da expedição arqueológica abre uma urna e lê um hieroglifo que desperta A Múmia Imhotep, um sacerdote egípcio, o que imediatamente o leva à loucura, e ao chefe, a dizer que nunca mais voltaria ao Egito.
Passam-se dez anos e o filho de Sir Joseph Whemple, Frank, está agora em outra expedição do museu británico quando um egípcio estranho (Imhotep disfarçado de mortal comum) chamado Ardath Bey indica, aparentemente desinteressado, um local em que farão uma descoberta incrível - Anckesenamon, filha de um imperador e antigo amor de Imhotep.
Helen Grosvernor (Zita Johann), filha de um inglês com uma egípcia, parece ser a reencarnação da princesa morta, ou ao menos sofre forte influência dos poderes de Imhotep, inicialmente demonstrado quando Imhotep tenta trazer novamente à vida sua amada Anckesenamon.
Imhotep começa sua peregrinação para ressuscitar sua amada, matando os que atravancam seu caminho, quase sempre por meio de feitiços, matando Sir Joseph, tentando fazer o mesmo com Frank (que é salvo por um amuleto). A única pessoa que parece capaz de impedi-lo é Dr. Muller, um médico versado nas lendas e magias do Egito antigo, e que consegue resistir aos feitiços de Imhotep e conhece as artimanhas deste.
Quando o antigo sacerdote leva Helen/Ancksenamon ao Museu do Cairo, onde estão os apetrechos da câmara mortuária da princesa egípcia, para completar a reencarnação da filha do imperador Amenófis, e tudo está em vias de ser consumado, Helen assume a personalidade de Ancksenamon, e embora esta inicialmente resista pois diz ainda ser a princesa, mas também já é outra pessoa, logo está pronta para o sacrifício, qual seja deixar que Imhotep a imole, para, depois de morta e mumificada, ser trazida à vida na mesma condição que Imhotep, uma múmia morta-viva.
No hora H, Frank e Dr. Muller chegam, e Helen/Ancksenamon, chamada por Frank, roga a Isis (há uma estátua dessa deusa) para que a salve da morte. A deusa então intervém, a estátua ganha vida e destrói Imhotep, transformando-o novamente em múmia sem vida, numa cena de boa maquiagem e efeitos especiais, queimando, no mesmo ato, o manuscrito de Tot, impedindo, dessa forma, que fato semelhante voltasse a acontecer.
Frank é instado por Dr. Muller a chamar por Helen, que se encontra desacordada,  para trazê-la do passado para onde foi, pois somente o amor de Frank poderia salvá-la. Ele a chama, diz que a ama, e a salva. Fim.

Há uma cena  durante o filme em que Imhotep induz Helen a ver o que houve no Egito antigo, a construção da cena é muito bem feita, numa paisagem desértica, de um modo original que não me lembro de ter sido feito em qualquer outro filme que trate do Império Egípcio, com a reconstituição histórica que por mais sem fundamento que possa ser (e não sei se o é), cria uma atmosfera intrigante, com cenas da corte egípcia, do funeral de Anckesamon, das falhas e erros (utilização do manuscrito de Tot, desafiando a ira dos deuses) que levaram Imhotep à danação eterna, mostrando inclusive sua mumificação ainda vivo.
Mais uma vez, uma história direta, sem firulas, bem contada, um bom filme. Só há uma ponta solta que é a imediata atração de Frank por Helen, injustificável que ocorresse, assim, de pronto. Mas acho que é o baixo orçamento, o filme curto, pouco tempo para desenvolver melhor a trama que leve à essa ligeireza. Esse detalhe não compromete a trama, só deixa um pouco fraco esse ponto do filme.

Nota IMDB - 7.3. Acho que a nota está adequada. O filme é melhor que o Drácula com Lugosi. A maquiagem de Karloff é estupenda, e este atua bem como a múmia, com seu gestual lento e fala pausada. A iluminação do olhos de Karloff é bem melhor do que a feita para realçar o olhar de Lugosi, ou seja, um ano depois, encontrou-se uma solução técnica bem melhor para o mesmo problema.

domingo, 20 de novembro de 2011

FÚRIA (1936), de FRITZ LANG - 19.11.2011

Esse filme, o primeiro dirigido pelo grande Fritz Lang (Metrópolis, M, o Vampiro de Dusseldorf) nos Estados Unidos trata de assuntos bem importantes. O linchamento, um julgamento justo, a justiça, a vingança, o papel - ou a inação - do Estado, representada pela não remessa de reforço policial pelo Governador, a conselho de um aspone.
Joe Wilson (Spencer Tracy) está noivo de Katherine (Sylvia Sidney) estão enamorados, e pretendem casar, mas vivem dificuldades financeiras. Katherine migra de Chicago para uma outra para ter um emprego melhor e melhor salário, enquanto Tracy continua em sua cidade até que consiga juntar uma grana e então ir atrás de sua noiva para casar.
Quando finalmente, um ano depois, consegue um dinheiro, no caminho é confundido, por indícios meramente circunstanciais (amendoim nos bolsos) com um assassino de menores, e preso. A polícia de Capitol City faz um trabalho inicialmente preguiçoso, mas o delegado (Edward Ellis, um ótimo coadjuvante - que fez dois papéis interessantes em outros filmes que vi durante este 2011, O Fugitivo, em que é o presidiário Bomber, amigo de Paul Muni; The Thin Man, em que é o assassinado Clyde Winant com William Powell e e Mirna Loy) fica em dúvida e diz que somente com a chegada do District Attorney alguma coisa será feita.
Mas na cidade a notícia de que o "assassino" das crianças foi preso gera uma onda de boatos, versões da história, e logo a turba resolve decidir rapidamente o futuro de Joe Wilson, linchando-o.
A malta consegue, contra a resistência do xerife e seus ajudantes, invadir a delegacia, e chegar até a carceragem, mas não logram êxito em entrar nas celas, e por isso, não conseguindo alcançar Joe Wilson, resolvem incendiar a delegacia. Katherine, impotente, vê seu noivo dentro da delegacia em chamas, e o prédio é consumido. Chega-se à conclusão que Tracy morreu, linchado (queimado), e logo em seqüência se descobre que ele era completamente inocente, e que esse inocente morto agora era um grande ultraje, uma vergonha para a imagem da cidade, e que o melhor para todos seria esquecer aquilo, nunca mais mencionar tal fato.
Ocorre que Tracy, de fato, não morreu, tendo conseguido fugir da carceragem pela tubulação de água. Ele, até então um homem de boa índole, que sempre quer que se leve uma vida honesta, resolve buscar vingança contra os linchadores, ainda que dentro do sistema legal, processando-os. Como não pode aparecer - por estar teoricamente morto, incumbe seus dois irmãos de tocar adiante a vingança, buscando a condenação de seus ditos algozes à morte, eis que linchamento, naquele Estado da Federação em que houve o ataque popular, é considerado homicídio em primeiro grau, crime sujeito à pena de morte.
No julgamento, o District Attorney (promotor) usa imagens das equipes de televisão para identificar os 22 acusados como participantes ativos do linchamento, e com isso já desmascara as testemunhas da comunidade que praticaram falso testemunho para proteger os "valores locais, da comunidade".
Um segundo momento do julgamento trata de alguém efetivamente ter visto Wilson preso e sob as chamas, o que só é possível com o testemunho de sua ex-noiva Elisabeth.
Um terceiro momento trata da ausência de materialidade do delito, pois como não há corpo (até porque Wilson está vivo), não há como provar juridicamente que realmente há um morto, e portanto, não há como provar que houve assassinato.
Para driblar essa deficiência probatória, é entregue em juízo uma carta anônima junto à aliança em que constam os nomes de Elisabeth e Joe, e que teria sido encontrada por alguém que limpou a delegacia incendiada, fazendo a prova da presença do de Joe no local do crime, convencendo os jurados, mas fazendo Elisabeth ter certeza de que Joe está vivo, em razão de um erro de grafia que era sempre cometido por ele.
Elisabeth e os irmãos de Joe o pressionam para esclarecer a situação, mas este, revoltado com tudo e todos, em princípio reluta. Contudo, sozinho e atormentado, Joe resolve se apresentar à Corte, no exato momento em que se começam a ler os vereditos condenatórios, e o faz não pelos homens que salva, pois os considera assassinos, mas para preservar as coisas em que acreditava, na Justiça, nos Estados Unidos, nas pessoas. Faz as pazes com Elisabeth.

Nota IMDB - 7.9. Daria um pouquinho menos, mas é um filme bastante bom. Vale a pena assistir.

sábado, 19 de novembro de 2011

DRÁCULA (1931), de TOD BROWNING - 16.11.2011

Já havia assistido ao agudo Freaks, dirigido por Browning, e foi um dos filmes mais impressionantes que vi nestes últimos tempos. Por isso, este Drácula, filmado um ano antes de "Monstros" era, para mim, um filme cercado de grandes expectativas.

Estou concomitantemente assistindo ao "A Múmia" e Frankenstein, com Karloff, para ver os três filmes clássicos sobre o maiores monstro do cinema numa só tacada, e todos os filme são produzidos por Carl Laemlle Jr. Tudo parece econômico, tanto que os créditos deste Drácula e d'a Múmia são muito semelhantes e ambos com a música do balé O Lago dos Cisnes ao fundo.

O filme aparentemente segue o livro de Bram Stoker (não o li), assim como fizeram, anteriormente o filme de Murnau (Nosferatu) - este não creditado por disputa por direitos autorais, e depois, ao menos o filme  do Coppola. Há outros filmes sobre o vampiro, mas não os assisti, tá faltando pelo menos o da década de 60, com o Christopher Lee.

O Nosferatu é impressionante, a caracterização animalesca do vampiro é espetacular, e muitas das brilhantes criações de Murnau foram copiadas por Coppola - tal como a sombra atrasada do vampiro. Browning faz um filme muito mais teatral, que entrou para a história por Bela Lugosi, o mais famoso Drácula, com seu olhar aí acima representado (e sempre realçados no filme por uma iluminação especial, que às vezes é boa, às vezes, exagerada). Lugosi está um perfeito canastrão no filme, suas falas são pouquíssimas, o que mais faz são suas "caretas" de drácula, para hipnotizar ou para se comunicar telepaticamente com seus servos, Renfield por exemplo. Mas seu modo de falar, suas ironias (I never drink... wine [only blood, podemos entender]) são muito boas.
Ademais, incontestavelmente, criou a caracterização clássica do vampiro mais famoso do cinema, e convenhamos, dá de 10 a zero, por exemplo, no caricato Keanu Reeves que faz Johnatan Harker no filme do Coppola - para mim o único, mas grandioso defeito do filme do diretor de O Poderoso Chefão.
O filme: Renfield (Dwight Frye) chega à Romênia para fechar o negócio do aluguel da londrina Abadia de Cairfax ao Conde Drácula.
Ali, é vampirizado pelo Conde, e volta a Londres de barco. No navio, estranhamente todos, à exceção de Renfield (louco e internando no sanatório de Seward), morrem. A carga do navio é próprio o Conde Drácula.
Drácula forja um encontro casual - no teatro -  com Mina Seward (Helen Chandler), o pai desta, Dr. Seward - dono de um sanatório, e com John Harker - de quem Mina estaria enamorada, além de Lucy. Logo o Conde vampiriza Lucy. 
Bem cedo na história, pela observação de Renfield e pelas mortes com mordidas no pescoço, o Dr. Van Helsing e Seward chegam à conclusão de que o caso trata de vampiros, uma superstição antiga que agora parece verdadeira.
Lucy, vampirizada e vestida de branco, ataca e mata crianças, porém esse trama fica subdesenvolvida na história e simplesmente some do filme, sem se saber o que foi feito de Lucy.
Drácula também morde Mina, esta bebe o sangue dele, e para a transformação dela em vampira ser completa (ela já está sob seu controle mas ainda não virou definitivamente uma vampira), Drácula terá de matá-la durante a noite.
Van Helsing o persegue e impede que ele execute a morte antes do nascer do dia, obrigando Drácula a voltar para seu caixão, quando Van Helsing consegue matá-lo (uma grande sacada a estaca utilizada ser tirada da tampa da caixão, que o caçador de vampiros quebra para criar a arma mortal para o vampiro).
Filme simples e direto. Conta a história e manda o recado.
O roteiro é simples e as vezes falho (acho que até em razão do baixo orçamento e não há, como no filme do Coppola, a explicação da fixação atemporal de Drácula por Mina, a história de Lucy fica mal contada, há diferenças na história - no filme de Coppola, Harker também vai à Transilvânia, após a volta alucinada de Renfield, neste apenas Renfield viaja.
Não há efeitos especiais propriamente ditos, e as cenas em que há alguma necessidade disso são feitas com cortes que dão a impressão de ter havido o efeito. Por exemplo, Drácula está atrás da teia de aranha, e para dar a impressão de passar por elas sem destruí-las, Lugosi é filmado antes e depois de passar por ela; ou a transformação de morcego em Drácula, igualmente, em que se filma o morcego cenográfico (mal feitos, por sinal, afinal estamos em 1931), e depois, o vampiro já personificado.
Tod Browning entende do riscado, mas se sai melhor em Freaks do que neste Drácula. De qualquer modo, há algumas cenas bastante interessantes, uma panorâmica na sala de autópsia de Lucy, por exemplo, os interiores do Castelo de Drácula e da Abadia de Cairfax.
O filme é razoável, cria o cânone hollywodiano do Conde Drácula, mas, a meu sentir, fica atrás tanto do filme do Coppola, dos anos 90, e do Nosferatu, de 1922, conduzido pelo Murnau. Vale a pena, de qualquer forma.
Nota IMDB - 7,6. Vale um pouco menos, essa nota tá perto de 8, o que é exagerado. Um 7 tá de bom tamanho.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A GENERAL (1926), de CLYDE BRUCKERMANN e BUSTER KEATON - 12.10.2011

Em seu filme mais famoso, Buster Keaton - o comediante que não ri - interpreta Johnny Gray, o maquinista da locomotiva "General" e enamorado de Annabelle. Em Marietta (Geórgia - um estado sulista, logo confederado), em 1861, durante a guerra civil americana, Johnny (Keaton) tenta se alistar no exército confederado, mas não consegue seu intento pois os alistadores entendem que sua importância para o Sul é maior como maquinista do que como soldado, e isso o faz cair em desgraça com sua amada e a família dela, que não sabem da razão de sua rejeição e o tem como covarde, traidor da causa sulista.

Um ano depois, com todo mundo engajado na guerra, e Keaton trabalhando a contragosto como maquinista, militares da União - o Norte - planejam o seqüestro da General, com um pequeno grupo de assalto entrando no Sul como civis, roubando a locomotiva, levando-a para o norte, e no caminho, destruindo pontes, cortando o abastecimento de suprimentos da tropa sulista, para assim infligir grandes perdas a tal lado do combate.
Concretizado o roubo em uma parada para refeição dos passageiros da "General" conduzida por Gray, por coincidência Annabelle está dentro do trem, pois ia em viagem para encontrar seu pai (e quase sogro de Keaton), que se ferira na guerra.
Johnny Gray passa a perseguir a sua locomotiva sem saber de Annabelle, apenas para recuperar a sua máquina, com um outro trem que obteve na parada - a locomotiva "Texas".
Na perseguição, são variadas as situações cômicas muito bem engendradas, como Keaton conduzindo seu trem acreditando que uma divisão do Exército Sulista está embarcada para o ajudar, sem notar que houve um desenganche e ele está sozinho; os desvios de linha para se livrar de obstáculos que surgem à frente; as dificuldades com um canhão; a inversão na posição dos trens, ora Keaton perseguindo "a General", ora esta lhe perseguindo com os nortistas; as dificuldades com a água; a dificuldade em obter madeira para alimentar a fornalha, etc.
Em certo lugar, o exército nortista pára, e Keaton consegue adentrar no QG dos militares para salvar Annabelle, e incidentalmente, sob uma mesa, escondido, consegue ouvir os planos de ataque de seus inimigos, e planeja voltar ao Sul e contar todos os planos a seus confrades.
Então, disfarçado com uma farda nortista, consegue salvar Annabelle, enfiando-a em um saco de suprimentos, carregando-a para dentro d'a General, e partindo com sua estimada locomotiva em retorno ao Sul.
Em sua fuga, é perseguido pelos nortistas que buscam evitar que seus planos sejam revelados aos inimigos, outra sorte de situações engraçadas é exposta, seus desencontros com Annabelle, esta, por exemplo, tentando varrer o chão de uma locomotiva a vapor, o atrapalhando para alimentar a fornalha, etc.
A perseguição prossegue até que chegam a uma ponte, Keaton a dinamita (a locomotiva Texas foi efetivamente destruída na filmagem desta cena), e dá-se então uma batalha em que, quase sem querer - por exemplo com uma espada que se desprende da empunhadora e mata um atirador nortista-, Keaton é determinante para a vitória e para a retirada em fuga dos inimigos da União.
Já no acampamento-base do Exército Confederado, é recebido por um oficial que o congratula por suas ações e o nomeia de imediato tenente, com isso conquistando o respeito de sua amada, de seu sogro, e passando a herói do Sul.
Sentado nos eixos que ligam as rodas da General, ele beija Annabelle, enquanto cumprimenta os vários militares que passam por ele, dando um jeito de continuar beijando a moça e, ao mesmo tempo, erguer a mão para cumprimentar seus colegas milicos.

Nota IMDB - 8,4. O filme é  bom, mas não pra tudo isso. As gags mais físicas, como o filme de Buster Keaton anteriormente comentado - Amores de Estudante - não estão tão presentes. Os filmes mudos são difíceis, agora mais distanciado, acho que a nota se não é 8,4, fica perto.

SEM LIMITES (2011), de NEIL BURGER - 30.10.2011

Um filme que, tal qual a personagem principal Eddie Morra (Bradley Cooper) só dá para aguentar chapado, tomando alguma baguinha.
Eddie Morra é um escritor fracassado, com um contrato de adiantamente para escrever um livro, mas há tempos não escreve uma só linha. Seu relacionamento com sua namorada também já foi pro beleléu.
De repente, o irmão de sua ex-namorada aparece e lhe oferece uma droga para a expansão dos limites do cérebro.
Imediatamente, Eddie passa a se lembrar de tudo, e sua criatividade e inteligência explodem.
Ele rapidamente conclui o livro, e fica um gênio, ganha toda a mulherada, aprende a tocar piano e falar diversas línguas em minutos, etc, e resolve então ganhar dinheiro, na bolsa.
Como ele tem pouca grana, seus ganhos são poucos, e ele resolve emprestar dinheiro de um russo ou qualquer coisa assim, e embora ganhe bastante dinheiro, ele esquece de pagar a ninharia que tomou emprestado do russo (uma burrice tamanha para quem tem um QI espetacular - e um grande furo - entre muitos outros - na história), o que vai lhe trazer dissabores.
O fato, contudo, é que os efeitos da droga são temporários, e ele precisa de mais droga. Vai até o apartamento de seu fornecedor, e quando sai de lá para ir ao mercado, na volta o ex-cunhado foi morto. Ele encontra várias pílulas (que os assassinos não puderam encontrar), o que lhe garante suprimento de inteligência por um bom tempo), mas sofre terríveis efeitos colaterais sem usá-la, tanto que muitas das pessoas que consumiram a pílula se suicidaram.
Robert de Niro vive Carl van Loon, um magnata do mercado financeiro. De Niro parece estar cumprindo um expediente de 8 horas numa empresa de trabalho pesado. Não tá nem um pouco a fim de fazer aquilo, mas precisa ficar ali pra receber uma graninha no final do mês (ou das filmagens). É um dos piores papeis desse grande ator. Até palhaçadas como Meet the Fockers fica melhor para ele.
Com o sucesso repentino de Morra, Van Loon o contrata para assessorá-lo, mas Eddie tem problemas com o possível término das pílulas. Ele contrata um químico para fazer mais pílulas para ele.
Com o fim das pílulas, o mundo de Eddie começa a desabar, ele dá o bolo em Van Loon, está encrencado com os russos, que além de dinheiro também quer as pílulas, pois Eddie deu algumas a eles como parte do pagamento da dívida, etc.
Aí, o russos vem até seu apartamento cobrar a dívida, ele acha uma última pílula mas essa cai pelo ralo, então o russo é morto (nem me lembro bem como - a essa altura eu já tava bebendo cerveja, porque o filme é uma merda), e como o bandido tá "chapado" com a pílula, Eddie bem o sangue do rapaz, e fica ligadaço, mata todo mundo, e se salva.
Acho que daí passa um ano, e vemos que Eddie conseguiu sintetizar a fórmula da pílula, consegue moderação - ou equílibrio - no quanto da droga deve usar evitando os mortais efeitos colaterais, está concorrendo ao Senado, e quando Van Loon vem tentar extorqui-lo ou ameaça-lo, Eddie dá a volta no empresário fudidaço, dizendo que já estava preparado para isso, e que está muitos passos a frente de seu oponente, e que tal ameaça não vai funcionar. Tudo bem para nosso herói chapado.
Me dêem licença que eu vou tomar mais uma cerveja, e chapadão, ver se daqui a um ano já melhorei do embrulho que esse filme me trouxe.

Nota IMDB - 7.3. É palhaçada ou burrice. O filme é uma bosta. Nota 3 ou 4, se tanto. Quem gosta de ação (há bastante), sem lógica alguma, alguns efeitos especiais interessantes - embora utilizados apenas como recurso para dar alguma atratividade a um filme paupérrimo - pode até se entreter com esse "filme".

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CINEMA PARADISO (1988), de GIUSEPPE TORNATORE - 26.10.2011

Eu vi esse filme, pela primeira vez, há muito tempo, e agora adquiri a coleção de cinema europeu da Folha de São Paulo, que embora pareça meio desigual - isso porque não conheço alguns filmes, tem algumas peças espetaculares.
Quando compro um filme em DVD acabo por preguiça não o assistindo, porque tá ali, à disposição, e aí não o vejo logo.
Mas como tô de férias, e sem SKY, a solução foi ver alguns dos filmes, e que boa solução.

Cinema Paradiso é um filme muito bonito. Acompanhamos três fases distintas da vida de Totó - a criança fascinada por cinema que aprende tudo sobre o cinema, a vida, com Alfredo (Phillipe Noiret), um senhor que é o projecionista da sala do Cinema Paradiso em uma pequena cidade italiana - Giancaldo; o adolescente apaixonado, e o homem feito que retorna à cidade para rever algumas coisas de sua vida e acertar-se com seu passado.

O filme inicia com Totó já homem feito, por volta dos 50 anos de idade, cineasta famoso, que recebe um telefonema dando conta da morte de Alfredo. Dá-se então toda uma regressão no tempo, sentimental e memorialista, com Totó lembrando-se de sua infância e adolescência, para, finalmente, regressar a Giancaldo para as exéquias de seu amigo.

Quando pequeno, Totó (então Salvatore Cascio), uma criança bastante inteligente, orfão de pai - morto na guerra - tudo negligencia (em casa, por exemplo, gasta o dinheiro do leito de sua pobre família para comprar ingresso) para ir à sala de projeção, ver os filmes, e ficar observando o trabalho de Alfredo, com ele conversar e tirar grandes lições.
Quando um incêndio destroi o Cinema Paradiso (as películas eram altamente incendiáveis), na ânsia de apagar o fogo Alfredo sofre queimaduras e perde a visão.
Um cidadão de Giancaldo que ficou rico na loteria esportiva então reconstrói o cinema - o Nuovo Cinema Paradiso - e contrata Totó, ainda criança, para ser o novo projecionista.
Alfredo, mesmo cego, volta a freqüentar a sala de projeção, e continua sua amizade com Totó, dando-lhe amizade e ensinamentos para toda a vida.
Num corte bem feito, Alfredo passa as mãos sobre o rosto de Totó criança e então já o vemos adolescente, mas ainda projecionista do cinema, e Alfredo envelhecido.
Totó se apaixona por uma menina que chega a Giancaldo - filha do novo gerente do banco, e então passa a perseguir o amor desta, vendo sua atração retribuída somente depois de muito sacrifício. Não fosse isso, tão logo o pai da moça descobre o romance, faz de tudo para dificultar o encontro dos dois, terminando por obter êxito em afastá-los definitivamente, levando a moça a um lugar não sabido. Achei essa, definitivamente, a parte mais fraca do filme, mas que não chega a ser ruim, com exceção do momento em que Alfredo, já acamado e sem vontade de fazer grandes esforços, chega a Totó e o aconselha a partir de Giancaldo e nunca, nunca voltar, não olhar para trás, sequer telefonar, e seguir sua vida e seus sonhos. Ainda lhe diz que se ele retornar que não o procure, que entnão não será recebido.
Totó, com efeito, até o telefonema dando notícia da morte, vive sua vida de cineasta famoso, muitas mulheres em romances de curta duração, sem voltar ou tratar de sua cidade natal. Termina a regresão e chegamos ao Salvatore adulto voltando a Giancaldo.

Ali, pela primeira vez, se reencontra com sua mãe desde sua partida, com as personagens que fizeram parte de sua vida, o louco da praça, o dono do Nuovo Cinema, o lanterninha do cinema, o casal que se conheceu durante os filmes, etc.
O cinema fechou, os vestígios mostram que antes do seu fechamento houve uma decadência (filmes pornô foram as derradeiras atrações) como acontece por todo lugar, mas a cidade - por mais que tenha mudado - continua a mesma, ao menos afetivamente, e que as origens de qualquer um, por mais que delas tenha tentado se afastar, continuam.
Finalmente, Totó após acompanhar o cortejo fúnebre, a demolição do prédio do cinema, vai à casa de Alfredo, e a mulher deste lhe entrega um presente, uma lata de filme.
Voltando para onde mora, Totó pede que o projecionista passe o tal filme, e ali constam todos os beijos que foram cortados das projeções, por intervenção do padre de Giancaldo, e que eram, portanto, sonegados do público, num trabalho meticuloso (colar pequenos trechos de filmes), carinhoso, e feito por um cego, numa demonstração de afeto espetacular, em cena muito bela.
Memória, amizade, o cinema em si mesmo e os valores afetivos que tal arte pode criar em cada indivíduo, as memórias de cada qual na vida e no cinema, a vida em retrospectiva, os afetos deixados para trás em sua vida. Há muito a ver e pensar com este filme.

Nota IMDB - 8,5. Não sei se é pra isso tudo, mas entre 7,5 e 8 (e já é grande nota), e vale. Gosto muito desse filme.