quarta-feira, 7 de setembro de 2011

OS INOCENTES (1961), de JACK CLAYTON - 23.08.2011 e revisão em 29.08.2011

O filme já começa muito bem, com uma tela negra e uma menina cantando uma música infantilmente, mas a música nada tem de infantil, fala na perda de um amor, choro sob um salgueiro, coração partido e morte.
Corte, e aparecem as mãos de Deborah Kerr (que vive a tutora Miss Gidens) contratada para cuidar de dois órfãos, as crianças Flora e Miles, em uma propriedade rural na Inglaterra, rezando, dizendo que só o que queria era ajudar ou salvar as crianças, porque ela as ama.
As instruções expressas do tio que ficou com a guarda dos menores são para que ela resolva tudo que acontecer, e que em nenhuma hipótese ela o chame, pois ele não quer ter de cuidar dos órfãos, quer continuar com sua vida de bon vivant em Londres sem ter que se preocupar com as crianças.
Chegando à propriedade rural, Miss Gidens se depara com um lugar idílico, um paraíso, numa mansão enorme, ficando absolutamente encantada. Ela ainda não percebe que há algo estranho, mas aparentemente há uma voz não identificada chamando por Flora, já na chegada.
Miles, a esta altura, está no colégio interno. Flora diz que logo ele estará de volta, o que seria impossível (só retornaria nas férias), mas logo depois recebem uma carta explicando que Miles foi expulso  do colégio, por ser má influência, por corromper aos demais.
Nos primeiros tempos de convivência, as crianças se mostram muito amáveis, obedientes, amorosas, que adoram viver na companhia de Miss Giddens.
Aos poucos, essa harmoniosa convivência vai ruindo, tanto ao se descobrir com morreram os anteriores trabalhadores da Mansão (Peter Quint e Miss Jessel - queda da escada e suicídio, e considerado que eram amantes, aquele um homem rústico, esta uma uma mulher bastante sensível dominada por aquele), quanto em razão do próprio comportamento dos menores e desconfiança da tutora. Ademais, ao que tudo indica, as crianças estavam sujeitas explicitamente ao relacionamento dos dois, e aparentemente, inclusive assistiam às relações sexuais dos criados.

Deborah Kerr está muito bem como a, ao mesmo tempo assustada mas corajosa e investigativa tutora, e sua cara de espanto não é caricata, mas realmente expressa o terror que vai sentindo.
As crianças, principalmente o menino, estão ótimos.
Há cenas realmente assustadoras, desse terror puramente psicológico, sem violência, sem nada, só sugestão, e muito bem feita.
O relacionamento entre a tutora e as crianças vai degringolando por variadas razões, quer porque a tutora começa a agir diferentemente, quer porque o comportamento das crianças vai piorando, com Flora e Miles fazendo joguinhos e passando a agir estranhamente.
Quando Miss Gidens começa a ver os fantasmas - primeiro de Peter Quint, sobre a torre e depois refletido na vidraça; depois de Miss Jessel, atravessando o corredor e também do outro lado do lago, o terror se intensifica, e Miss Gidens chega à conclusão de que os ex-funcionários da casa precisam, para poder continuar com seu amor, voltar à vida, especificamente tomando os corpos de Flora e Miles em possessão, e que esse momento está cada vez mais próximo, dada a aparição dos fantasmas.
Ela resolve partir para Londres para dar parte dos acontecimentos ao responsável legal pelas crianças, mas muda de ideia e resolve ficar com Miles na fazendo, enquanto Flora e a empregada Mrs. Grose rumam para Londres.
Giddens enfrenta Miles, para fazê-lo confessar que vê os espíritos, esse sempre nega, mas instado a dizer o nome de alguém diz o de Peter Quint e imediatamente morre. A razão da morte, evidentemente, não resta explicada, se por muita pressão psicológica, por medo, por ter-se desfeito a possessão.
Passada essa cena, Giddens põe-se a rezar, voltando exatamente para a cena em que as mãos de Deborah Kerr estão juntas em reza, lá do início do filme, em que ela diz amar as crianças, e só queria protegê-las.

O filme é, desta forma, em sua conclusão, completamente aberto. Não é possível saber se realmente há assombrações do ex-caseiro e da ex-tutora (por exemplo Flora canta a música lá do início do filme como se para chamar alguém - e a música tem muito de uma música de amor adulto - e de repente, ela começa a sorrir, como se a pessoa chamada fosse vista, embora as crianças sempre afirmem que não vêem nenhuma assombração);  se as crianças é que são apenas más e com o auxílio da empregada têm um plano para aterrorizar quem se intrometa naquela casa, para que nada mude naquela vida idílica,  ou se Miss Gidens é que vai enlouquecendo paranoicamente com o passar do tempo, afetada pelo comportamento das crianças, pela atmosfera do enorme prédio, pelo isolamento do campo.
Há a interpretação - não minha, pois não tem tal cabedal de conhecimento - de que os fantasmas eram meramente imaginados pela governanta, pois reflexo da repressão dos costumes e da vida sexual da era vitoriana, projetando "nos inocentes" as suas perversões.
Preciso ler o livro, que recentemente adquiri, para ver se chego a uma conclusão. Se chegar, altero este post.

Nota IMDB - 7,9. Se não fosse o final em aberto - com três ou quatro possibilidades diferentes - que incomoda um pouco alguém como eu, que por vezes precisa de um desfecho concreto para a história, a nota seria ainda maior. Mas o 7,9 é merecido. Ótimo filme, ao qual "Os outros", de Shyamalan, sem dúvida deve muito.

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