sábado, 24 de setembro de 2011

INVICTUS (2009), de CLINT EASTWOOD - 21.09.2011

Esse filme de Clint Eastwood narra a saga do time de rúgbi sul-africano, os Springbok, que um ano antes da competição mundial, e que decorrido esse tempo conquista a Copa do Mundo, muito por inspiração de Nelson Mandela.A história narra o esforço de Mandela para pacificar o país logo após a extinção do Apartheid e de sua eleição como Presidente, utilizando o time de rúgbi como um amálgama da expressão nacional, e evitando revanchismo dos negros pelos muitos anos de sofrimento sob o Apartheid.
Em breve retrospectiva mostra-se a libertação de Mandela, a sua eleição para a Presidência da República, o ceticismo dos brancos com a capacidade de Mandela governar e com a pacificação pretendida pelo presidente negro.
Igualmente, a má fase por que passa o time de rúgbi, capitaneado por Piennar (Matt Damon).
Mandela contém a ânsia revanchista (mostra-se, por exemplo, que os negros pretendiam aposentar o nome Springboks e as cores verde e dourado do uniforme, pois tudo isto remetia ao Apartheid), pelo bem da nação, do futuro democrático do país, para evitar talvez uma guerra civil.
Nesse intento de unir o país, ele chama Pienaar para uma conversa, diz que o time precisa de inspiração.
Vê-se então uma diferença na postura da equipe, uma aproximação com a população negra (rúgbi era para plateias brancas, futebol para os negros), uma equipe que passa a realmente representar o país, e não apenas eles mesmos. Visitam a prisão de Mandela e se assombram com sua postura depois de todo sofrimento que lhe foi imposto pelo regime segregacionista
O final é óbvio (até porque real): a vitória na final da Copa do Mundo. O filme, pelo lado esportivo, lembra muito a história da Alemanha e sua relação com o futebol. A Alemanha venceu, em casa, duas Copas do Mundo de futebol muito significativas: a de 1954, menos de dez anos depois do fim da segunda guerra, unindo novamente um país em frangalhos e restaurando um pouco do orgulho de um país que estava então moralmente destroçado pelas atrocidades por eles cometidas na Guerra; a de 1990, na Itália, no ano subseqüente à reunificação alemã, com a queda do Muro de Berlim, reunindo em um mesmo objetivo as duas Alemanhas que estavam separadas desde o final da Segunda Guerra.
Nota IMDB - 7,4. Talvez um pouco menos. O filme vale muito mais pela postura de Mandela do que pelo enredo em si mesmo.

MONSTROS (FREAKS), 1932, de TOD BROWNING - 21.09.2011

Já é a segunda vez que ocorre, que o filme do TCM não começa no momento exato previsto na SKY, e perde-se o começo do filme, a que só consegui assistir no google vídeos - que tem ótimos filmes, por sinal. Há um prólogo por escrito em que se explica que as pessoas com deficiências era consideradas como de má sorte ou representações do mal, e muitos males e problemas durante a história foram atribuídos aos "freaks", e que Golias, Calaban, Kaiser Wilhelm, Glocester foram anormais.
Que essas pessoas eram deixadas à morte, ou, se sobreviventes motivo de diversão e escárnio para os nobres, emboras pessoas com sentimentos e pensamentos sãos. Estes "freaks" criaram entre si um código moral para se proteger do escárnio das outras pessoas, e o mal feito a um deles a todos agredia, e a  felicidade de um a todos aproveitava.
O filme inicia, e o apresentador do show ou de feira de variedades (sideshow, em inglês) faz a advertência e apresenta à plateia um monstro - que inicialmente não vemos (só o veremos no fim) - que diz já ter sido uma belíssima mulher, uma trapezista conhecida como o pavão dos ares, e então, sem que os espectadores a vejam, sentimos qual ruim é seu estado pela reação assustada dos que a ela são apresentados.
A história em si começa com a trapezista  Cleopatra (Olga Baclanova) fazendo seu numero e sendo admirada pelo anão alemão Hans (até então enamorado da anã Frieda). Cleopatra utiliza-se de seu charme para "seduzir" Hans, para ganhar presentes e algum dinheiro.
Parênteses: há uma cena em que Madame Tetralini - a tutora dos anormais - leva os seus "freaks", alguns débeis mentais, o homem que só tem o torso, o homem apenas com a parte superior do corpo e que se locomove com os braços, anões para um passeio no parque que é impactante.
Pois bem, Hans que casaria com a anã Frieda cai no engodo de Cleópatra (parece-me que qualquer coincidência não terá sido mera semelhança), principalmente após esta e Hércules - seu amante - descobrirem que Hans é herdeiro de uma grande fortuna. Cleo resolve casar-se com Hans, e como é sabido que os anões têm saúde frágil, planeja matá-lo e herdar sua fortuna.
No jantar pós-casamento Cleopatra, depois de beber em companhia de todos os freaks, em que estes cantam a ela que agora ele é uma deles, tem um acesso de raiva, xinga os "monstros", rejeita ser um deles, beija Hércules. Durante o jantar Hans já recebera a primeira dose de veneno em sua bebida, e cai adoentado.
Hans só vai descobrir o plano quando já casado e à beira da morte - quando passa a não mais ingerir o remédio misturado com veneno que lhe é ministrado.
Descoberto o plano, os freaks então resolvem vingar-se de Cleo - dentro daquela lógica inicialmente explanada de que tudo que fizeres a um de nós o fazes a todos - e então a transformam no monstro não mostrado no início - uma mistura de pessoa sem braços e sem pernas misturado com uma ave, uma galinha ou coisa que o valha.
Após essa cena há ainda um epílogo em que Hans, gozando de sua fortuna vive solitário em uma mansão e Frieda e os dois amigos "normais" Phroso, o palhaço, e Venus, que eram os únicos integrantes do circo que não gozavam dos anormais, ali aparecem para arranjarem uma reconciliação entre os dois anões (midgets, palavra inglesa que eu acho espetacular).

É um filme bastante impressionante. Uma das coisas mais impressionantes que vi nos últimos tempos. O filme nos expõe a nossos próprios preconceitos de uma forma pungente. Enquanto via o filme, várias vezes dei pausa na projeção para pesquisar na internet sobre as pessoas reais que encarnaram na tela a sua personalidade real. Não há, aqui, em verdade, personagens, mas "freaks", pessoas verdadeiras consideradas abjetas, estranhas demais, que participaram do filme, representando um pouco, vivendo sua realidade de atrações de circo, principalmente. As suas histórias reais são ainda muito mais impressionantes do que o filme. Vários desses anormais morreram idosos. O half-boy (Johny Eck) morreu com 83 anos; Schlitze, a pinhead (pessoa microcéfala, com uma deformidade craniana gravíssima, e com volumetria cerebral muito pequena, logo, com desenvolvimento mental retardado, com baixo QI - no caso, Schlitze tinha idade mental de 4 anos), com mais de 60 - e na verdade era um homem; as gêmeas siamesas Hilton, também com mais de 60 e entre a morte de uma e outra mediou mais de uma semana (imaginem o que é isso, sua irmã siamesa morta e grudada ao seu corpo por mais de uma semana).
O filme vale a pena.

Nota IMDB - 7,9. Acho que vale bem mais. É um filme de 70 minutos espantoso. Quem viu, viu. Quem não viu, está perdendo.

A CEIA DOS ACUSADOS (THE THIN MAN - 1934), de W.S. Van DYKE - 20.09.2011

Essa filme de comédia-investigação com William Powell (Nick Charles) e Mirna Loy (Nora Charles) tem um ritmo ágil impressionante, diálogos ótimos, uma ótima interpretação do casal protagonista. Pena a cópia dublada apresentada no quase sempre bom TCM - que por exemplo torna quase impossível o reconhecimento do nome de Nunheim, personagem que se mostrará importante para o desenlace da história.
Tudo começa quando um inventor - Clyde Winant - tem um projeto secreto e diz ir a algum lugar que não pode revelar. Aparentemente fica por lá uns 3 meses, e no dia de natal, em que entra em contato com sua secretária, sua namorada/amante é morta.
Há vários complicadores. Sua amante morta Júlia o tinha roubado - 50 mil dólares. Sua ex-exposa e seu novo marido/gigolô Jorgensen vivem pedindo dinheiro a Clyde, e não gostavam de saber que ele gastava dinheiro com a amante. Há, por óbvio, a possível invenção que fosse objeto de cobiça de alguém.
Nick é detetive particular mas casou-se com Nora, herdeira de um rico industrial, e abandonou a profissão de investigador, devotando-se, a como ele mesmo disse, ironicamente, a cuidar para sua esposa não gastar o dinheiro que o levou a casar com ela. Bebidas e festas fazem o cotidiano do casal - é raríssimo um filme em que os protagonistas ou estejam bebendo ou de ressaca, como é comum  - todo o tempo - nesta obra.
Com o crime, Nora fica interessada em ver como seu marido trabalha, e por diversão o incentiva a aceitar o caso - com o que ele reluta inicialmente, mas todos os envolvidos vivem a lhe procurar.
Há várias personagens (suspeitas) envolvidas: toda a família Wynant (a ex-esposa Mimi, os filhos Dorothy e Gilbert); o advogado MacCaulay; o guarda-livros Tanner; o gigolô de Mimi, Jorgensen; Nunheim, pequeno bandido e informante da polícia - e possivelmente envolvido com Júlia; Morelli, bandidinho e pretenso amante de Julia, entre outros.
As pistas são desencontradas, e Nick avança na investigação, perseguindo o dinheiro de Wynant - muita gente vive às suas custas, descobrindo que Clyde já está morto e seu corpo enterrado em seu próprio laboratório, descobrindo os relacionamentos de Julia, etc.
Quando imagina que está prestes a descobrir o assassino, convida todos os suspeitos para um jantar - a tal Ceia dos Acusados (o título em português é ótimo, melhor que The Thin Man original), em que ele expõe seu raciocínio com muito charme e desestabilizando os presentes à mesa chega à solução do mistério, explicando o romance de Júlia com MacCauley, a descoberta desse romance por Nunheim e a chantagem deste para não revelar o caso - razão pela qual foi morto, as falsas cartas remetidas por Wynant dando notícia de que ainda estaria vivo, o esquema entabulado por MacCauley para continuar administrando e desviando o dinheiro do morto, para si e para dá-lo a Julia e a Mimi. Por essas linhas, já dá para saber quem é o assassino.
Mais do que o desfecho, o desenrolar do filme, com soberba química entre Powell e Mirna Loy, sua vida rica e descompromissada, sempre em festas e rodeados de amigos, com muito humor e diálogos afiados fazem deste filme uma grande opção para divertimento.
Li críticas por aí que o roteiro é quase impossível de seguir - realmente a trama se complica, ainda mais com a má dublagem do TCM, tive que voltar o filme para compreender alguns detalhes (e nem todos são compreensíveis), e além disso um elogio a Powell, que seria para o cinema falado o que Chaplin ou Keaton seria para o cinema mudo. Atuação soberba, realmente, de um ator que até agora nunca tinha visto em atuação.
Nota IMDB - 8,1. Merecido.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O FUGITIVO (1932), de MARVIN LEROY - 02.09.2011

Um filme de 1932, com Paul Muni, embora com estilo de atuação ainda muito teatral, afinal só fazia 5 anos do lançamento de "O cantor de jazz", é um filme bastante bom.

Paul Muni é James Allen, um herói da primeira guerra mundial que volta para sua terra natal mas não quer mais aquela vida. Ele volta, sua mãe e seu irmão padre querem que ele volte à mesma vida de sempre, inclusive lhe sendo assegurado o emprego que detinha antes da guerra, mas ele não quer mais aquilo. Até aceita o emprego por pouco tempo, mas logo depois pede demissão, e quer fazer coisas novas, trabalhar na construção civil.

Munido apenas de seu sonho, perambula de cidade em cidade, obtendo e perdendo empregos, por diversas razões - corte de gastos, crise, não devendo ser esquecido que se tratava dos anos da grande depressão econômica americana.
Ele termina por virar um mendigo, passando fome. Quando ele é convidado por um desconhecido para mendigar um sanduíche num lanchonete, ele é envolvido num assalto sem tanto querer, pois esse seu colega é que faz o roubo e manda que Allen pegue o dinheiro do caixa. Nessa hora chega a polícia, mata o assaltante e prende Allen, que não tem como se defender sendo condenado à longa pena de trabalhos forçados em uma prisão chain gang - os presos trabalham acorrentados, logo, a turma, a gangue da corrente - da Geórgia.
Ele consegue fugir, e, pouco a pouco, se estabelece em Chicago, com seu nome alterado para Allen James, na construção civil, passando de mero servente de obras a um dos mais respeitados industriais da área, por seu mérito e trabalho.
Ele dá o azar de casar com uma aventureira, que o chantageia para que continue casado provendo-lhe uma boa vida, sob pena de delatá-lo.
Allen, no entanto, está enamorado de Helen, e quer o divórcio de Marie para poder viver com Helen. Em razão disso rompe com sua esposa, e esta  esta cumpre a promessa e o entrega à polícia. Allen, então, é novamente preso, e extraditado para a Geórgia, sob promessa de cumprir uma pena de 3 meses e receber indulto. Negado, lhe prometem que em um ano será solto, e novamente tem seu benefício negado.
Ele então arranja nova fuga, com o auxílio de seu companheiro Bomber Wells, que é morto na fuga.
Passa-se um ano em que Allen embora procurado não é mais visto, por ninguém, quando então se dá o desfecho impactante do filme, em que Allen procura Helen, apenas para se despedir, para sempre. Enquanto ele se retira, ela pergunta se ele precisa de algo, de dinheiro. Ela pergunta como ele vive agora, e a resposta cruel: I steal.
Filmaço, desses que tem a qualidade de crescer em nossa mente com o tempo. Uma crítica severa aos sistemas judiciais e prisionais - que ressocialização que nada - à violência do sistema, à degradação do ser humano - à violência por si só (pois Allen - que nunca fora culpado, mas ainda que fosse, já tinha se adaptado à sociedade e galgado posição de destaque), pouco importando a justiça.
Nota IMDB - 8,1. Daí pra mais.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O DELATOR (1935), de JOHN FORD - 14.09.2011

Este filme de mais de 75 anos tem obviamente os defeitos que já apontei em outro ponto, de ser dos primeiros anos do cinema falado, o que a meu ver traz ainda uma interpretação muito teatral, até mesmo a cena do julgamento de Mulligan e depois de Gypo parecem estar sendo filmadas num tablado.

Na história, Gypo Nolan, um irlandês meio estúpido, porém muito forte fisicamente, vaga pelas ruas, sem dinheiro algum há seis meses, tendo sido recusado para ser membro do IRA pois não teve coragem de cumprir uma ordem da direção do exército revolucionário. Sua namorada, Katie, na mesma condição de penúria, passou a se prostituir.
Nesse quadro, ele avista um aviso de recompensa de 20 libras por qualquer informação que leve a seu amigo Frankie McPhillip, integrante do IRA procurado por assassinato. Ao mesmo tempo, sua namorada sonha com a felicidade em uma migração para os EUA, com passagens custando 10 libras.
Premido pela fome, pelo amor - e esperança de uma nova vida na América, pela necessidade, e com o juízo embotado por alguma bebida, Gypo delata seu amigo, que é morto pela polícia dentro da casa de sua mãe, e nosso herói de poucas idéias recebe a sua recompensa. Os integrantes do IRA logo suspeitam que houve um delator, e dizem a Gypo que ele pode voltar ao grupo dês que descubra quem foi o informante, e este não hesita em apontar Mulligan, um alfaiate como o autor da denúncia.

Gypo então inicia uma peregrinação noturna alucinada, onde vai a bares, tabernas, boates, casa de prostituição, desfazendo-se do dinheiro não se sabe se por remorso, por embriaguez, ou por bondade, eis que paga comida a muitos num refeitório "fish and chips", dá esmola a um cego, gasta com bebida na zona, dá dinheiro a uma prostituta que se parece - na imaginação dele - com Katie, paga as dívidas daquela prostituta com a dona do bordel, é conduzido por um farrista mau caráter, e por fim, dá o resto do dinheiro - naquela hora apenas 5 libras, à própria Katie. Li uma crítica sobre o filme que aponta para a frase mostrada no início do filme, de que Judas, enojado com o próprio ato, jogou ao chão as 30 moedas que recebeu por trair Jesus, querendo dar a entender que a conduta de Gypo com a grana - e com a culpa - foi semelhante a de Judas. Boa sacada.
Arrependimento, euforia com o dinheiro, atos de bondade, e mau-caratismo se misturam sucessivamente na conduta de Gypo, que é ao final, desmascarado em sua invectiva contra Mulligan e levado a confessar perante um tribunal revolucionário que foi ele o delator, mas sem saber explicar exatamente porque assim agiu, alternando suas explicações entre amor, bebida, necessidade, etc.
Antes de ser executado - os representantes do IRA justificam a execução sob pena de Gypo colocar em risco toda a resistência ao domínio inglês sobre a Irlanda -  consegue fugir. Ele se refugia na casa de Katie, pergunta-lhe onde estão as 20 libras que lhe dera (que como dito, não eram mais 20), ela se compadece e vê que ele não sabe exatamente quais os seus atos nem as reais conseqüências deles.
Katie tenta interceder por Gypo junto a Gallagher, dirigente do partido, conta-lhe onde Gypo está, mas este se mostra irredutível pelas razões já expostas. Tenta ainda interceder junto à namorada de Gallagher, e coincidentemente irmã de Frankie McPhillip - o traído - até recebendo o perdão desta e a aquiescência pela não punição (há alguns momentos no filme de exortação ao fim da violência praticada pelo IRA), mas Gallagher não cede.
Gypo é alvejado com quatro tiros, mas consegue rumar até a igreja - aparentemente esperando apenas o perdão divino - o IRA é católico, mas lá encontra a mãe de Frankie, que o perdoa, com base nas famosas palavras de Jesus aos ladrões na cruz - Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem.
O intérprete de Gypo Nolan, Victor Maclaglen ganhou o Oscar de melhor ator pelo papel, em interpretação que eu, particularmente, considero um pouco aborrecida, basicamente um bêbado com momentos de lucidez, arrependimento, amor, mas um bêbado.
Um filme sobre o perdão - humano e divino - a culpa, o arrependimento, o peso das escolhas, e as conseqüências advindas de cada ato humano. Um pouco raso, mas tudo bem.
Há alguns momentos em que a fotografia é muito bonita, especialmente nas cenas noturnas em que a luz que vem de dentro dos edifícios ilumina o nevoeiro. É o mais marcante do filme, penso eu. 
 Nota IMDB: 7,6. Não achei tudo isso. Daria um 6 ou 6,5.

sábado, 10 de setembro de 2011

A LOJA DA ESQUINA (1940), de ERNST LUBISTSCH - 07.09.2011

Uma simpática comédia romântica protagonizada por James Stewart, ainda jovem, aos 32 anos e a desconhecida, para mim, Margaret Sullavan, baseada na peça teatral de um húngaro, razão pela qual toda a ação se passa em Budapeste. Essa mesma peça serviu como base para o filme You've got mail, com Tom Hanks e Meg Ryan (evidentemente com grande queda de qualidade).
Stewart (Alfred Kralik) é o chefe de vendas da loja de variedades de Matuschek, e vê Sullavan (Klara Novak) ser contratada, contra sua vontade, pois acha que já há vendedores suficientes. Logo se cria uma antipatia natural entre os dois no ambiente de trabalho.
Kralik tem vontade de conhecer alguém, e ele se corresponde anonimamente com uma moça, assim como Klara, e ambos consideram seus correspondentes desconhecidos, sem saber que quem se odeia no ambiente de trabalho está pelo outro apaixonado nas correspondências.

Há alguns diálogos bem afiados, personagens secundárias bem construídas, como o Matuschek, o vendedor Pirovitch, amigo-confidente de Kralik e destinatário dos esporros de Matuschek, além do office-boy Pepi, e pequenas histórias incidentais bem amarradas (como o amante e os presentes, a escolha da carteira como presente de Klara para Kralik, manipulada por este sem que ela saiba, as frustrações de Pirovitch, as despesas de um solteiro e um casado)

Quando os correspondentes marcam algum encontro, sempre há contratempos para que ele acabe não se realizando. Certo dia Kralik é demitido, pois Matuschek desconfia que sua esposa o esteja traindo com Kralik (depois se verá que era com outro funcionário), e então vai ao lugar do encontro quando descobre, com o auxílio de Pirovitch que sua correspondente é ninguém menos do que Klara. Ele entra no restaurante, conversa com Klara, mas, desapontado com o "seu amor", não se identifica como o remetente das cartas, ou seja, para ela o seu amor anônimo lhe deu o bolo.

Nessa mesma noite a reviravolta no filme, pois Matuschek tenta o suicídio ao descobrir que Vadas era o amante de sua mulher, mas é salvo pelo boy Pepi. Então, ele decide recontratar Kralik, promovendo a seu substituto na gerência da loja, Pepi vira vendedor em lugar do demitido Vadas, mas Klara está tão frustrada com não comparecimento de seu correspondente que cai acamada.
Daí por diante, Kralik começa vagarosamente a mudar seus sentimentos e sua postura para com Klara. Primeiro vai a sua casa e com a artimanha de fazê-la receber uma carta do correspondente postal dizendo que não falou com ela no restaurante porque a viu conversando com alguém - exatamente Kralik - e marca novo encontro.
Depois, já na loja, passa tratá-la melhor, e no dia do encontro, depois de algum jogo de sedução que em tese seria improdutivo, e após muito importunar Klara, dizendo-lhe que conhecera o seu amigo postal, e que este era velho, gordo, pobre, revela o número da caixa postal em que recebia a correspondência, deixando-a descobrir que era ele o remetente das cartas de amor. E foram felizes para sempre...hehe.
Nota IMDB - 8,1. Não é pra tudo isso, embora um filme bastante agradável. Nota 7.

O LUTADOR DE RUA (HARD TIMES - 1975), de WALTER HILL - 09.09.2011

Charles Bronson interpreta Cheney, um solitário sem passado (não há como saber se por exemplo ele não fora um lutador profissional) que chega a Nova Orleans com 6 dólares no bolso, em plena grande depressão, e por acaso descobre brigas de rua em que há apostas de dinheiro, sendo James Coburn (Speed) um dos "empresários" dessas lutas.
Cheney vai ao encontro de Speed para propor uma parceria, pois ele precisa de algum dinheiro - uma certa quantia e não mais lutará - e preencher algumas entrelinhas - que nunca vai se saber quais são. Na primeira luta ele vence o adversário com apenas um soco.
Speed é um viciado em jogo, e portanto vive sempre sem dinheiro, tem problemas com agiotas e a máfia de New Orleans, e para bancar a luta valiosa de seu pupilo Cheney contra o lutador do ricaço do lugar, ele precisa de grana - 3 mil dólares, que consegue através de um empréstimo e também de uma luta longe de Nova Orleans, ainda que para que eles recebessem a bolsa tivessem que cobrá-la a força, pois num primeiro momento, longe de sua área, se vêem em maus lençóis.
Com esse dinheiro eles fazem a luta contra Jim "skinhead" Henry, o então melhor lutador da cidade, agenciado pelo tal ricaço e poderoso (Gandil), e Charles Bronson vence. Gandil não se dá por vencido e não quer não ter sob seu domínio o melhor lutador, e tenta contratar Bronson por uma certa quantia e em parceria com Speed, mas Cheney rejeita o negócio - quer fazer as coisas de seu jeito. Por isso, como Speed precisa de dinheiro (perdeu no jogo o que ganhou com as lutas e não pagou o empréstimo, ainda devendo aos mafiosos), ele e Cheney se desentendem, e as ameaças a Speed aumentam.
Gandil, então, faz um arranjo com a máfia, garante o empréstimo de Speed dês que Cheney volte a lutar contra um contratado de Gandil (que também só luta a dinheiro), trazido especialmente de Chicago para tal fim, enquanto Speed é mantido refém, para que Cheney se convença que precisa lutar, apesar de ter rompido com seu antigo parceiro. 
A aposta dessa luta será Gandil x Cheney, pois como Speed perdeu seu dinheiro, Cheney é obrigado, para lutar, a colocar em jogo o que conquistou nas brigas anteriores, pondo em risco o seu plano de só lutar até conseguir o necessário. Mas ele vence, fica com seu dinheiro e o dobra, esse dinheiro da vitória a Speed e seu assistente, pois o que ele precisava ele já tinha. E assim, vai embora de Nova Orleans, tendo cumprido sua missão - ao menos em parte, o dinheiro - pois as entrelinhas, talvez a tentativa de um relacionamento que não dá certo porque ele não quer ter nenhuma amarra, isso ele não conquista.
Acho que a própria chamada do DVD, aí em cima, de que "naqueles dias [da grande depressão], as palavras não dizem muita coisa". É um filme com o estilo de Charles Bronson, poucas palavras, mas olhares e muita ação. É um tempo de dureza, e as coisas só são conquistadas por quem é duro na queda, ganha na porrada, contra uma situação dificílima - economia quebrada, o lutador mais bem pago, etc.
Apenas para constar, Walter Hill dirigiu os 48 Horas, com Eddie Murphy, A Encruzilhada e especialmente The Warriors (Os selvagens da Noite) - de que eu gosto muito.
Nota IMDB - 7,2. Não vi tudo isso (Inácio Araújo falou bem do filme). Daria um 6.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

SERPICO (1973), de SIDNEY LUMET - 02.09.2011

Frank Serpico, um policial recém ingresso na força de Nova Iorque (vivido como se pode ver por Al Pacino), logo percebe que onde quer que vá - e durante o filme ele passa por quatro ou cinco delegacias diferentes, os policiais são corruptos, e recebem dinheiro e várias outras formas de vantagens para "dar proteção" a comerciantes, o que já consistia uma prática por demais usual, e não fazer parte desse esquema o deixa isolado e em perigo.
Muitos tentam demovê-lo dessa conduta honesta, pois ela coloca em risco os próprios policias corrompíveis, que ficam com medo de um haver um tira honesto no meio deles.
Essa postura afrontosa de Serpico o leva a mudar de delegacia, quase sempre a seu pedido, primeiro indo para o setor de identificação criminal - onde em tese não haveria corrupção, depois passa a trabalhar como policial à paisana, a P2 brasileira, em que em tese não precisaria estar tão ligado à burocracia policial e mais afastados dos esquemas, mas os episódios de corrupção não diminuem, nem a pressão que os demais exercem sobre ele para que ele aceite dinheiro.
Serpico é um policial pouco ortodoxo no seu modo de ser, é apaixonado, é uma pessoa sedutora, vive com cabelos compridos, barba espessa, brinco, ama ballet, tem namoradas e nas horas de folga vive como se não fosse um policial, mas no cumprimento de seu mister é inflexível.
Ele tenta desbaratar a corrupção por dentro da instituição, primeiro comunicando a seus superiores sobre o que vem ocorrendo, e estes lhe prometendo providências, mas nada realmente é feito, por anos, e a pressão sobre Serpico aumentando (bem como sua paranóia persecutória, de que todos estavam a persegui-lo). Tenta contato com os níveis mais altos da hierarquia policial, com o gabinete do prefeito, mas nada dá resultados, sempre com um antigo colega de academia, que rapidamente se tornou detetive (por influência política).
Somente quando vazam a história para o New York Times é que as coisas começam a acontecer, pois é instaurada uma comissão investigativa que ao final vai redundar em uma grande limpeza na polícia novaiorquina, mas durante as investigações secretas Serpico continua trabalhando, e estas se arrastam porque as provas não são contundentes (ao menos para os investigadores), que gostariam que Serpico tivesse consigo um grampo para confirmar o eventual testemunho, o que é impossível dada a desconfiança de seus colegas. Frank inclusive reluta por muito tempo em testemunhar, e aparentemente somente após o atentado abaixo narrado é que decide contar tudo à comissão.
Nesse ínterim, para Serpico, as coisas não ficaram tão fáceis assim (sobre a verdadeira história de Frank Serpico LINK AQUI, no NYT), e quando ele está na delegacia de narcóticos - em que os subornos são muito mais altos e portanto a honestidade traz grandes prejuízos aos colegas corruptos - em uma batida contra um traficante de heroína, ele é deixado na mão por seus "colegas" - um deles F. Murray Abraham (o Salieri em Amadeus, ganhador do Oscar de melhor ator), que na abordagem ao traficante, em um apartamento, fica preso na porta, lutando contra o traficante, e seus colegas que deveriam auxiliá-lo no arrombamento nada fazem, deixando Serpico levar um tiro na cara, que não o mata, mas o deixa surdo de um ouvido e com um problema na perna.
No filme ele é socorrido pelos policiais, mas na vida real estes sequer se dignaram a ajudá-lo, e um vizinho idoso e uma viatura que não o reconheceu - pois estava à paisana, socorreram-no, levando ao hospital, em que receberá o distintivo prateado, tornando-se detetive (mas sem efetivamente voltar a trabalhar).
Serpico migrará para a Europa, onde ficará por muitos anos.
Nota IMDB - 7,8. Acho que daria um pouco menos, um 7. Um filme que deve ter tido muito maior repercussão quando do lançamento, dois anos após os acontecimentos.

OS INOCENTES (1961), de JACK CLAYTON - 23.08.2011 e revisão em 29.08.2011

O filme já começa muito bem, com uma tela negra e uma menina cantando uma música infantilmente, mas a música nada tem de infantil, fala na perda de um amor, choro sob um salgueiro, coração partido e morte.
Corte, e aparecem as mãos de Deborah Kerr (que vive a tutora Miss Gidens) contratada para cuidar de dois órfãos, as crianças Flora e Miles, em uma propriedade rural na Inglaterra, rezando, dizendo que só o que queria era ajudar ou salvar as crianças, porque ela as ama.
As instruções expressas do tio que ficou com a guarda dos menores são para que ela resolva tudo que acontecer, e que em nenhuma hipótese ela o chame, pois ele não quer ter de cuidar dos órfãos, quer continuar com sua vida de bon vivant em Londres sem ter que se preocupar com as crianças.
Chegando à propriedade rural, Miss Gidens se depara com um lugar idílico, um paraíso, numa mansão enorme, ficando absolutamente encantada. Ela ainda não percebe que há algo estranho, mas aparentemente há uma voz não identificada chamando por Flora, já na chegada.
Miles, a esta altura, está no colégio interno. Flora diz que logo ele estará de volta, o que seria impossível (só retornaria nas férias), mas logo depois recebem uma carta explicando que Miles foi expulso  do colégio, por ser má influência, por corromper aos demais.
Nos primeiros tempos de convivência, as crianças se mostram muito amáveis, obedientes, amorosas, que adoram viver na companhia de Miss Giddens.
Aos poucos, essa harmoniosa convivência vai ruindo, tanto ao se descobrir com morreram os anteriores trabalhadores da Mansão (Peter Quint e Miss Jessel - queda da escada e suicídio, e considerado que eram amantes, aquele um homem rústico, esta uma uma mulher bastante sensível dominada por aquele), quanto em razão do próprio comportamento dos menores e desconfiança da tutora. Ademais, ao que tudo indica, as crianças estavam sujeitas explicitamente ao relacionamento dos dois, e aparentemente, inclusive assistiam às relações sexuais dos criados.

Deborah Kerr está muito bem como a, ao mesmo tempo assustada mas corajosa e investigativa tutora, e sua cara de espanto não é caricata, mas realmente expressa o terror que vai sentindo.
As crianças, principalmente o menino, estão ótimos.
Há cenas realmente assustadoras, desse terror puramente psicológico, sem violência, sem nada, só sugestão, e muito bem feita.
O relacionamento entre a tutora e as crianças vai degringolando por variadas razões, quer porque a tutora começa a agir diferentemente, quer porque o comportamento das crianças vai piorando, com Flora e Miles fazendo joguinhos e passando a agir estranhamente.
Quando Miss Gidens começa a ver os fantasmas - primeiro de Peter Quint, sobre a torre e depois refletido na vidraça; depois de Miss Jessel, atravessando o corredor e também do outro lado do lago, o terror se intensifica, e Miss Gidens chega à conclusão de que os ex-funcionários da casa precisam, para poder continuar com seu amor, voltar à vida, especificamente tomando os corpos de Flora e Miles em possessão, e que esse momento está cada vez mais próximo, dada a aparição dos fantasmas.
Ela resolve partir para Londres para dar parte dos acontecimentos ao responsável legal pelas crianças, mas muda de ideia e resolve ficar com Miles na fazendo, enquanto Flora e a empregada Mrs. Grose rumam para Londres.
Giddens enfrenta Miles, para fazê-lo confessar que vê os espíritos, esse sempre nega, mas instado a dizer o nome de alguém diz o de Peter Quint e imediatamente morre. A razão da morte, evidentemente, não resta explicada, se por muita pressão psicológica, por medo, por ter-se desfeito a possessão.
Passada essa cena, Giddens põe-se a rezar, voltando exatamente para a cena em que as mãos de Deborah Kerr estão juntas em reza, lá do início do filme, em que ela diz amar as crianças, e só queria protegê-las.

O filme é, desta forma, em sua conclusão, completamente aberto. Não é possível saber se realmente há assombrações do ex-caseiro e da ex-tutora (por exemplo Flora canta a música lá do início do filme como se para chamar alguém - e a música tem muito de uma música de amor adulto - e de repente, ela começa a sorrir, como se a pessoa chamada fosse vista, embora as crianças sempre afirmem que não vêem nenhuma assombração);  se as crianças é que são apenas más e com o auxílio da empregada têm um plano para aterrorizar quem se intrometa naquela casa, para que nada mude naquela vida idílica,  ou se Miss Gidens é que vai enlouquecendo paranoicamente com o passar do tempo, afetada pelo comportamento das crianças, pela atmosfera do enorme prédio, pelo isolamento do campo.
Há a interpretação - não minha, pois não tem tal cabedal de conhecimento - de que os fantasmas eram meramente imaginados pela governanta, pois reflexo da repressão dos costumes e da vida sexual da era vitoriana, projetando "nos inocentes" as suas perversões.
Preciso ler o livro, que recentemente adquiri, para ver se chego a uma conclusão. Se chegar, altero este post.

Nota IMDB - 7,9. Se não fosse o final em aberto - com três ou quatro possibilidades diferentes - que incomoda um pouco alguém como eu, que por vezes precisa de um desfecho concreto para a história, a nota seria ainda maior. Mas o 7,9 é merecido. Ótimo filme, ao qual "Os outros", de Shyamalan, sem dúvida deve muito.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O TÚMULO VAZIO (1945), de ROBERT WISE - 04.09.2011

Neste filme em que Bela Lugosi faz uma ponta, Boris Karloff é Gray, um taxista (de carruagem, por óbvio) em Edimburgo, em 1831. Nas horas vagas, ele arranja corpos para seu "amigo", Dr. Wolfe MacFarlane - que é a cara de um advogado aqui da minha cidade, Dr. Virmond Price, um médico que dirige uma escola de medicina, e precisa de cadáveres para ensinar a seus alunos sobre anatomia.
Gray arranja os corpos principalmente desenterrando cadáveres recentes (body snatcher), e recebendo uma paga do médico para isso.
Wolfe tem, contudo, uma dívida para com Gray, porque este o inocentou - ao mentir - em um processo judicial anterior sobre casos semelhantes, e embora tente se livrar de Gray e do passado, não consegue. Gray sempre está ao redor, e Wolfe tem esse segredo a lhe perseguir.
As coisas se complicam quando o estudante de medicina e assistente de Wolfe, Donald Fetter -  descobre que Gray matou  - e não "apenas" desenterrou uma das pessoas cujo corpo lhes é entregue, e ao revelar tal fato a Wolfe (não que esse já não pudesse saber), o ajudante Joseph, um silencioso e soturno (além de bisbilhoteiro) Bela Lugosi - que me pareceu bastante envelhecido, ouve essa conversa.
Joseph então vai até Gray para chantageá-lo, mas ali é morto, e seu corpo é entregue por Gray na clínica do médico, o que poderia complicar a situação do doutor, eis que um seu empregado apareceu morto - evidentemente de maneira inexplicável.
Wolfe então vai até a casa do personagem vivido por Karloff para dele se livrar, e lhe oferece dinheiro para que este o deixe só, e se mude para a França. Gray recusa pois somente com essa relação de um homem humilde, um taxista próximo a um médico conceituado ele se sente alguém. Wolfe então mata Gray, e tenciona usá-lo como um corpo para dissecação em suas aulas, mas isto não fica demonstrado se efetivamente ocorre.
Wolfe resolve que venderá a a carruagem de Gray para se livrar das evidências, e vai a um subúrbio para concretizar o negócio. Lá, Fetter o encontra, e Wolfe, embora todo o distúrbio, diz ainda precisar de corpos para suas aulas, e resolve ele mesmo escavar um corpo recentemente inumado.
Retira o corpo de uma mulher da terra e ao levá-lo para a cidade, paranóico ou assustado, esse morto lhe parece ser o de Gray (numa cena muito bem realizada, com luzes interessantes e Karloff muito pálido e iluminado pelos raios de uma tempestade), o que o faz perder o controle da carruagem e cair em um despenhadeiro para a morte.
Incidentalmente, Wolfe é um cirurgião renomado, mas que tem medo de operar, mas, mesmo assim, é convencido por Fetter a salvar uma menina paraplégica, com uma técnica inovadora.

Não sei se há coisas no filme além da história contada. Talvez que ninguém tem apenas um lado bom ou ruim - o mesmo médico que compra defuntos ilegalmente ou burlou o sistema legal pedindo a alguém que burlasse o seu testemunho salva uma menina pobre e paraplégica; ou que as amizades - ou tudo o que se faz -  têm conseqüências, e Wolfe não podia se desfazer de Gray a seu bel-prazer, pois dele se utilizara, obrigando-se a fazer negócios de compra de cadáveres; ou o dilema moral irresolvido de Fetter, aluno pobre e aprendiz de Wolfe, que se submete às ilegalidades de seu professsor, malgrado veja onde está o erro; ou a amante/namorada de Wolfe, que embora sua companheira finge-se de empregada, para que desfrute da posição social do médico famoso, mas não dê as caras, ao passo que este tem sua reputação mas não revela à sociedade a sua união com uma simplória. Tudo isto talvez seja relevante, e foram coisas sobre a quais pensei no dia seguinte à sessão do filme. Não sei se vou longe demais, e o filme é só uma ficção de terror. Mas esses pensamentos fizeram o filme crescer na minha consideração muito rapidamente.


Apenas para constar, Robert Wise fez filmes como a Noviça Rebelde, West Side Story, mostrando que dominava os mais díspares gêneros do cinema.
Nota IMDB - 7,4. Dou um 6, no máximo. Repensando - no dia seguinte, conforme dois parágrafos acima, um pouco mais, talvez um 7.