quarta-feira, 27 de junho de 2012

EM BUSCA DO OURO (1925), de CHARLES CHAPLIN - 07.06.2012

Comédia (sempre com algum drama, em Chaplin) genial. A primeira aparição do famoso personagem de chapéu e bengala já rende uma gag muito boa, quando ele, caminhando por um desfiladeiro é perseguido, sem perceber, por um urso. 
Na corrida do ouro no Alasca, Carlitos vai em busca da fortuna, mas logo se vê enredado por muito mais problemas do que apenas o dinheiro que lhe falta. 
Com fome, sem ouro, pobre com um rato, chega à cabana em que está instalado o perigoso Black Larsen, um bandido procurado. Ali, ambos mortos da fome, se estranham e Larsen está a ponto de conseguir expulsar o extenuado mendigo, até que chega Big Jim McKay (que encontrara uma grande mina de ouro e a deixara só para buscar o necessário à exploração), que intercede em favor de Carlitos, e assim, embora com desconfianças mútuas, o três personagens continuam na cabana até que a fome de todos torna-se desesperadora, e, em sorteio para ver quem deixará a cabana em busca de alimentos, Black Larsen (Tom Murray) tira a má sorte, tendo que enfrentar o frio extremo.
Em sua busca por comida, Larsen cruza com os policiais que estão em seu encalço, os mata, obtém os meios de subsistência que estes carregavam consigo. Ademais, Black encontra a mina de Big Jim, e pretende ficar com o ouro ali existente.


Enquanto isso, na cabana, a fome aperta ainda mais (chegam a compartilhar e devorar uma das botas de Carlitos), e McKay (Mack Swain) tem alucinações (cena brilhante), vendo Carlitos como uma grande galinha, e tenta matá-lo(a) para ter o que comer. O gestual de Chaplin como um frango é impressionante, bem como a perseguição de Big Jim ao nosso herói, aquele na caçada, este na defensiva. As lutas, a perseguição, a trucagem Chaplin/galinha, tudo funciona à perfeição.
Quando praticamente não há mais solução, um urso invade a cabana, e se, a um tempo, é uma ameaça, é também a solução, pois o urso é morto e lhes serve de comida. Saciados, recompostos, eles deixam a cabana, despedem-se, cada um partindo para o seu lado.
Chaplin se dirige à cidade. Big Jim vai em direção à sua mina, onde encontra Black Larsen que encontrara a mina de Mckay, e após discutirem, este golpeia o grandão bonachão, deixando-o inconsciente, mas como castigo, sofre um acidente - o desprendimento de uma parte de uma geleira, e morre. Big Jim acordará, mas com amnésia. 


Na cidade, Chaplin vai a um bar, se encanta por uma dançarina (Georgia - Georgia Hale), que flerta de leve com ele para causar desapontamento em um pretendente. Ao cabo, esse pretendente vai querer surrar Carlitos, mas o vagabundo, com um golpe de sorte - a queda de um relógio quando já nada via, eis que seu chapéu lhe tinha sido enfiado na cara - é quem nocauteia o latagão, acreditando erroneamente que lhe derrubou com um soco às escuras. 
Saindo dali, ele se dirige à cabana de um outro mineiro onde consegue abrigo e comida por uns dias. Georgia e suas amigas por acaso passam pela cabana, e são convidados pelo garimpeiro para entrar. Georgia acidentalmente encontra uma foto de divulgação da dançarina, dando-se a entender que Chaplin está apaixonada por ela. Esta leva tal atração como uma brincadeira, e ela e suas amigas se divertem às custas de Carlitos. No final dessa reunião, Chaplin convida as moças para que passem juntos a ceia de ano-novo, convite que elas aceitam. 
Na noite de ano-novo, contudo, as bailarinas, entretidas na festa no bar, deixam de aparecer para a bela festa armada por Chaplin (com dinheiro que ele consegue limpando a neve de estabelecimentos comerciais da cidade), que fica muito decepcionado. Georgia, lá pela madrugada, lembra-se de seu compromisso e vai à cabana, quando Carlitos já não mais estava por lá - dirigira-se ao bar.
Chaplin, desolado, vai ao bar, encontra Jim McKay que, embora com amnésia, se recorda de seu antigo companheiro de dificuldades, e diz que se este puder lembrar o caminho para a cabana, ambos ficarão ricos, pois dali ele poderá lembrar-se do caminho até a sua mina de ouro.
Ambos chegam à cabana, e vão dormir para no outro dia ir à caça do ouro. Durante a noite uma avalanche desloca a casa até a beirada do penhasco (foto aí acima), e mais uma série incrível de gags com a casa cambaleando à beira do abismo é mostrada, até que finalmente a casa cai, sendo Chaplin salvo agarrando-se a uma corda sustentada por Big Jim.
Não vemos a dupla encontrar o ouro, mas apenas os garimpeiros depois do encontro com a fortuna, já suntuosamente vestidos - e ricos - em um navio deixando o frio fim de mundo em que foram atrás (e encontraram) a fortuna. 
Ali, estão fazendo uma reportagem sobre o novo-rico, e sugerem que ele se vista como o mendigo que fora para ilustrar a reportagem, e ele concorda. Então, no deck do navio, é confundido com um ladrão que está a bordo, e detido. Logo, no entanto, se desfaz a confusão com a interveniência da tripulação e ele encontra Georgia, com quem finalmente fica junto. 
Nota IMDB: 8,3. É por aí. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

ZUMBILÂNDIA (2009), de RUBEN FLEISCHER - 10.06.2012

Esse pequeno - e curto -  filme de zumbis é muito divertido. Quatro sobreviventes de uma praga de mortos-vivos (decorrente de um vírus que foi a vaca louca e acabou se transformando no "zumbi louco") que dizimou praticamente toda a terra, têm de sobreviver.
Columbus (Jesse Eisenberg) - e nenhum dos personagens terá um nome, mas apenas serão chamados pelo nome das cidades de onde são ou qualquer outra cidade - é o primeiro sobrevivente mostrado, e ele logo de cara estabelece as regras para manter-se vivo nesse apocalipse. Por exemplo, tenha bom preparo físico, sempre dê dois golpes nos zumbis, evite banheiros, olhe o banco traseiro do carro, carregue pouca bagagem consigo, etc., com tais regras vai sobrevivendo tentando ir para o Oeste - onde segundo ouviu, não haveria zumbis.

No caminho, cruza com Tallahasse (Woody Harrelson), um tipo de cauboi anti-zumbis, que os mata com alguma graça, métodos pouco ortodoxos, com uma raiva incontida - que somente mais ao final se saberá decorrente da morte de seu pequeno filho. 
Com a desconfiança recíproca comum em uma época como esta (a solidariedade evidentemente está em baixa, e a sobrevivência individual é o que mais importa), eles começam a conviver e vão superando as diferenças, vendo que afinal ter alguém em quem confiar parece ser um bom caminho.
Logo depois eles cruzam com Emma Stone e Abigail Breslin (respectivamente Wichita e Little Rock), que inicialmente aplicam um golpe nos dois companheiros, roubando-lhe carro e armas. Elas também estão em busca de algum lugar sem zumbis, embora seu primeiro objetivo seja encontrar um parque de diversões para permitir alguma vida infantil a menor das irmãs. 
Como os caminhos possíveis para os vivos não são tantos assim, os seus rumos continuam a se cruzar, e depois de mais uma traição, os quatro percebem que terão de viver juntos para seguirem adiante, e começam a viver com alguma confiança e amizade.
Eles seguem até Hollywood, onde invadem a casa de Bill Murray, que imaginam morto, mas que vivo está, e que se fantasia/maquia de zumbi para poder continuar vivendo. Temos boas cenas de humor neste encontro, até o momento em que Bill dá um susto em Columbus e é por ele morto. Aqui na mansão hollywodiana se dá uma primeira aproximação entre o tímido (achei Jesse Eisenberg - taciturno, por exemplo, em A Rede Social -  com bom timing para a comédia) Columbus - que tem como sonho ter uma namorada - e Wichita
Ali, mais uma vez se separam, e só vão se encontrar no parque de diversões, em que uma legião de zumbis é atraída pelo fato de as meninas acenderem todas as luzes do parque, sendo depois salvas por Columbus e Talahasse. Todos deixam o parque juntos, são a "família" que resta um ao outro.
Filme divertido, que demonstra metaforicamente a solidão em que vivemos, cada um em seu próprio egoísmo, sem confiança algum no próximo. Ademais, há boas piadas sobre a vida moderna, a padronização de tudo, e boas cenas de "combate" entre humanos e zumbis.

Nota IMDB - 7.7. Não sei se é pra isso tudo, mas é boa diversão. Gostei. Vale a pena.

sábado, 9 de junho de 2012

CONTRA O TEMPO (2011), de DUNCAN JONES - 04.05.2012

Filme misto: policial/sci-fi em que Jake Gyllenhal (Cap. Colter Stevens) tem de prevenir um atentado à bomba em um trem nas cercanias de Chicago, e um subseqüente ataque em local ainda desconhecido. Stevens terá de descobrir quem é o terrorista e onde estão as bombas, possibilitando que o Exército aja antes de os fatos sucederem.
Para isso, ele é posto pelo Exército, através do programa virtual Source Code, no corpo de um professor - Sean Fentress, um simples professor de história passageiro do trem, que está acompanhado de Christina (Michelle Monaghan).


Numa trama um pouco mirabolante, e um pouco previsível - que o agente Stevens do mundo real está morto é bastante "adivinhável" desde logo - Stevens é mandado àquele corpo para que em 8 minutos descubra o que está havendo. 
Para convencê-lo a seguir na missão, dão-lhe a falsa explicação de que Sean Fentress está morto e sua memória antes do término dos impulsos nervosos dura oito minutos, e então o capitão pode agir nesse tempo.
Como esse tempo é pouco para que em apenas uma vez seja feita a investigação e salva a população de Chicago onde haverá uma segunda e mais letal bomba (e a cada oito minutos o trem explode reiniciando a investigação, mas sem que os dados da incursão anterior sejam esquecidos), ele é mandado repetidamente até que descubra as bombas (no trem e a próxima a ser explodida), e quem é o responsável pelos artefatos. 
Enquanto é mandado várias vezes ao trem, e ali, pouco a pouco, investiga e vai descobrindo o crime, ele começa a se envolver com Christina, começa a questionar o seu papel dentro da Source Code, o que houve com sua missão no Afeganistão (em que segundo ele estava até há pouco, lamenta sua relação difícil com seu pai (até dará tempo para um sentimentalismo, com musiquinha ao fundo e tudo, para uma conversa entre filho - embora se dizendo Sean Fentress - e pai). 
Quando lhe é dito que em verdade ele é que está morto, ele se concentra na missão, e a cumpre - sob a promessa de que as máquinas que o mantêm vivo sejam desligadas. 
Contudo, mesmo cumprida a missão, ele pedirá mais uma missão, à revelia do chefe do experimento Dr. Rutledge  (Jeffrey Wright), com a ajuda da militar que lidava diretamente com ele na operação do Source Code, Maj. Goodwin (Vera Farmiga), agora para salvar o trem, embora isso fosse em tese impossível, pois o Source Code apenas poderia alterar o futuro, nunca o passado - a explosão do trem já era fato consumado, Stevens apenas fora mandado ficticiamente a oito minutos do acidente só para evitar a segunda bomba.
Mas, eis que o cinema do fantástico - ou do absurdo - permite que Stevens (no corpo de Sean Fentress), com o conhecimento prévio decorrente de suas incursões prévias, se antecipe a todos os fatos, evite a explosão das bombas, prenda o terrorista, ligue para a polícia avisando dos planos deste, mande um e-mail para a Maj. Goodwin explicando tudo o que fez, ainda antes do início da real operação do SourceCode, explicando-lhe que ele conseguiu evitar inclusive a primeira explosão, e para felicidade geral da Nação, passados os 8 minutos, desta Sean Fentress (ou Stevens, ou o diabo que os parta) não morre, e passa a viver uma vida feliz com a mocinha. 


É um filme só de montagem. Um enredo mirabolante com uma montagem que permite essas viagens do cinema atual, com idas e voltas no futuro, e um filme que depois de visto, não deixa nada a ser lembrado.
Nota IMDB - 7,5. Bem menos. Dou um 5. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

THE PAWNBROKER - O HOMEM DO PREGO (1964), de SIDNEY LUMET - 08.04.2012

Um filmaço, com Rod Steiger no papel de um judeu sobrevivente de Auschwitz - Sol Nazerman - e que tem uma loja de penhores (o famoso "prego") em uma área decadente de Nova Iorque.
Amargurado, viu sua jovem esposa - Ruth - morta e prostituída durante a Guerra, há 25 anos, além de ter sofrido com a morte de seus filhos. Já no início do filme, sua cunhada, uma chata, o convida para ir ao Europa, secundada pelo seu marido que diz que a Europa tem um ar diferente, da para "cheirar" - smell - a diferença, e Sol diz que na verdade, aquilo "fedia" - stinks -, se ele bem se lembra. Puta fala.
Outra muito forte: Jesus, ao ver a tatuagem do campo de concentração pergunta se aquilo é de algum clube secreto. Sol diz que sim. Jesus quer saber como ingressar em tal clube. Resposta: - Andando sobre as águas.


Ao mesmo tempo em que remói sua condição de sobrevivente do campo de concentração que perdeu sua essência exatamente pelo que lhe ocorreu durante a guerra (não acredita em nada, não dá valor a ninguém, só ao dinheiro), vai trabalhando em sua loja de penhores sem nenhum entusiasmo, sem dar atenção aos clientes que o procuram, alheio à miséria humana que lhe é apresentada cotidianamente (o senhor idoso e pobre que penhora as coisas apenas para ter alguém com quem conversar, e que ao nada mais ter para vender lamenta que não mais poderá voltar à loja onde era tão maltratado é tocante), tratando a todos com indiferença. 
Por trás dessa aparente honradez  e firmeza de princípios, sua loja de penhores é fachada para um bandido do bairro lavar dinheiro. Irá descobrir com o tempo que o bandido é um explorador de mulheres, um cafetão (o que o levará à memória de sua mulher estuprada e à consciência do que anda fazendo). A loja de penhores é um fracasso; não dá lucro, logo apenas uma fachada para o cafetão.
Ele tem um ajudante latino - Jesus Ortiz (Jaime Sanchez) - um ex-pequeno-delinquente que tem como sonho aprender o ofício do penhor e adiante ter seu próprio negócio. Mas quando Sol faz um dos negócios de fachada do cafetão, recebendo 5 mil dólares, a cobiça lhe vem à cabeça - e ali permanece sem ser imediatamente posta em ação - não sem dar com a língua nos dentes e falar desse dinheiro para seus ex-comparsas, negando-se, neste primeiro momento, a praticar o assalto.


Uma das tramas laterais dá conta o relacionamento de Sol e Tessie, ex-esposa de Reuben (papel interpretado pelo pai do diretor Sidney Lumet), um amigo de Sol que morreu em sua frente, no campo de concentração, e há um amigo comum (o sogro de Tessie), à beira da morte, que de forma recorrente inflige culpa em Sol e Tessie. Ademais, diz que Sol é na verdade um morto-vivo, sem desejos, sem aspirações, sem sonhos, e que ainda por cima troca sonhos dos outros por um dólar. 


Há, ainda, a Sra. Marylin Birchfield (Geraldine Fitzgerald), que faz trabalhos comunitários e vai se aproximando de Nazerman, buscando algum consolo para sua vida também desgraçada -  perdeu seu amado marido - mas que ao comparar suas tragédias com as de Sol, recebe uma lição deste, com sua sociologia de araque, recebendo uma descompostura enorme. 


Essa é uma grande passagem do filme. O ajudante de Sol Nazermann pergunta como os judeus chegaram tal facilmente ao sucesso no comércio. Eis a resposta, que vale a pena ser assistida:

You people? Oh, let's see. Yeah. I see. I see, you... you want to learn the secret of our success, is that right? Alright I'll teach you. First of all you start off with a period of several thousand years, during which you have nothing to sustain you but a great bearded legend. Oh my friend you have no land to call your own, to grow food on or to hunt. You have nothing. You're never in one place long enough to have a geography or an army or a land myth. All you have is a little brain. A little brain and a great bearded legend to sustain you and convince you that you are special, even in poverty. But this little brain, that's the real key you see. With this little brain you go out and you buy a piece of cloth and you cut that cloth in two and you go and sell it for a penny more than you paid for it. Then you run right out and buy another piece of cloth, cut it into three pieces and sell it for three pennies profit. But, my friend, during that time you must never succumb to buying an extra piece of bread for the table or a toy for a child, no. You must immediately run out and get yourself a still larger piece cloth and and so you repeat this process over and over and suddenly you discover something. You have no longer any desire, any temptation to dig into the Earth to grow food or to gaze at a limitless land and call it your own, no, no. You just go on and on and on repeating this process over the centuries over and over and suddenly you make a grand discovery. You have a mercantile heritage! You are a merchant. You are known as a usurer, a man with secret resources, a witch, a pawnbroker, a sheenie, a makie and a kike!

A amargura, o niilismo de Nazerman, são trucidados pela conversa franca que tem com o cafetão Rodrigues (Brock Peters), após ver revelado o negócio de prostituição que este exerce, em cena memorável em que Steiger contracena com a namorada de Jesus, que vem lhe pedir dinheiro - tentando penhorar um presente que recebera de algum de seus clientes, para poder pagar suas dívidas com Rodrigues.
Sabendo dos negócios daquele a quem servia de fachada, vai tomar satisfações com Rodrigues, e este lhe dá uma lição, fala que Nazerman não poderá abandonar o negócio, terá de continuar servindo de fachada para os lucrativos negócios do cafetão, é humilhado pelo bandido. Em decorrência deste acontecimento, volta à loja de penhores completamente despedaçado, começa a pagar pelos bens mais do que eles valem, e vender os objetos penhorados por valores irrisórios.
Jesus se revolta com aquela postura perdulária de seu empregador, e tenta dissuadi-lo dessa prodigalidade, quando então Sol Nazerman o humilha profundamente. 
Tomado pela raiva, Jesus vai ao encontro de seus ex-companheiros de vagabundagem e crimes, e combina o assalto à loja de penhores, e durante o assalto, ordenam que Sol abra o cofre onde estão os cinco mil dólares, mas o velho não mais vê qualquer sentido em nada e diz que não vai dar o dinheiro, provavelmente esperando ser morto. Jesus impede que seu comparsa atire em Nazerman, puxando o braço do companheiro que, de forma não intencional, dispara contra o próprio Jesus. Jesus rasteja para fora da loja de penhores, e morre na calçada. À vista disso, Sol deixa sua loja, aberta, e sai vagando pelas ruas de Nova Iorque. 
Um grande filme, Deve ser visto. Imperdível.


Nota IMDB: 7,8. Daí para mais. 

INVERNO DA ALMA (2011), de DEBRA GRANIK - 05.06.2012

Ree Dolly (Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar de melhor atriz pelo papel) é uma adolescente de 17 anos que sustenta como pode sua casa, onde vive com sua mãe com problemas mentais, e seus dois irmãos, de 12 e 6 anos de idade, eis que foram abandonados por seu pai Jessup Dolly, um "químico" fabricante de drogas, que estás prestes a ser julgado à revelia. 
Com a ameaça de ser preso por dez anos, Jessup resolve "desaparecer" e não ir ao julgamento, o que acarretará a quebra da fiança, e, com isso, a perda da propriedade - que foi dada em garantia para a libertação - em que sua família vive,  já com extrema dificuldade até em razão da ausência paterna, dependendo da ajuda de vizinhos, por vezes, até para ter o que comer. 
Ree então decide iniciar a procura por seu pai, e inicialmente apenas lhe é dito para que deixe isso de lado, ninguém quer informá-la sobre o paradeiro dele; primeiro tentam dissuadi-la de continuar perguntando, que é melhor deixar para lá (até porque todo mundo parece ter problemas com a lei e não quer se envolver); com a insistência da protagonista, começam a aumentar o nível de agressividade, e, posteriormente, dão a entender que em verdade Jessup está morto, porque teria falado (ou poderia dizer durante o julgamento, para evitar dez anos de "cana") algo que não deveria, talvez incriminando algum de seus colegas do crime. Ademais, aparentemente, na comunidade retratada (o local não é revelado, apenas pode-se supor que se está próximo à fronteira de Arkansas, para onde em certa hora se menciona Jessup poderia ter fugido), todos têm problemas com a lei, vivem na pobreza, não querem se meter em questões que possam lhes trazer contratempos legais - ainda que algumas das pessoas a quem Ree peça auxílio sejam parentes seus.
Essa possível morte de Jessup, embora inviabilize que o pai de Ree dê pessoalmente a solução ao caso, abre a possibilidade de reversão da perda da fiança, uma vez que se o réu não compareceu ao julgamento por ter morrido, extinta estaria a punibilidade, e a propriedade não seria perdida.
Embora Ree quase seja morta, pela sua conduta firme, e contando com o auxílio de seu tio - e irmão de Jessup - que resolve, após renhida resistência, se envolver na resolução do problema, embora isso provavelmente pudesse custar a sua vida, em razão dessa obstinação finalmente decidem dizer-lhe que Jessup realmente foi morto, e que seu corpo está em um lugar determinado, para onde a levam vendada, e com o auxílio de uma motosserra, deixam que ela obtenha ambas as mãos de seu pai, de modo a provar a morte deste e evitar a perda da propriedade, que ela finalmente consegue entregando as mãos do genitor ao xerife.
É de se ressaltar a personagem Teardrop (ótima interpretação de John Hawkes),  que como dito, inicialmente fica contra Ree, mas ao ver a justiça de sua luta - não perder a casa e qualquer possibilidade de sobrevivência digna, resolve se arriscar. 
O visual de cinema alternativo (parece que de propósito, para aumentar a "veracidade", a dramaticidade do filme), com imagem levemente granulada, me parece um pouco pesado, ou melhor, forçado. De qualquer modo, a caracterização de uma comunidade pobre do interior dos EUA, a demonstração de um lugar que algum dia já foi alguma coisa, mas que hoje não passa de um vilarejo de fracassados, com problemas com a lei, e que de pequenos negócios ou pequenos trambiques constroem uma penosa sobrevivência, sem a mínima preocupação com o próximo, foi, para mim, um dos pontos altos do filme. 
Nota IMDB - 7,5. Um pouco menos, um 6 ou 6,5. Mas vale a pena.