domingo, 18 de agosto de 2013

HOMENS DE PRETO III (2012), de BARRY SONNENFELD - 17.08.2013

Já havia visto o filme, e revendo, ainda me parece muito divertido.
O extraterreste bogladiano Boris, the animal, está preso há 40 anos, e logo se verá que está numa prisão
lunar. Sua namorada chega à prisão com um bolo, e dentro deste bolo há uma pequena criatura que passa pela revista sem ser notada. Tão logo todos adentram à cela, a pequena criatura mata os guardas, liberta Boris, e este logo revela que sua missão é se vingar do agente K (Tommy Lee Jones), que há quarenta anos o prendeu e amputou seu braço. Ele agora está prestes a voltar à Terra para executar sua vingança.

Os agentes J (Will Smith) e K estão às voltas com o falecimento de Zed, e a assunção da Chefia do MIB pela agente O (Emma Thompson), e J está contrariado com a incapacidade de K ter qualquer emoção, qualquer sentimento, inclusive em relação ao curtíssimo e inexpressivo discurso a respeito de Zed. Eles ficam meio estremecidos e, enquanto falam ao telefone sem conseguir se entender, tem-se o súbito desaparecimento de K, e seu apartamento tudo o que ali havia, em imagens mescladas, desaparece por completo e outra família passa a habitá-lo.

No dia seguinte, J vai à casa de K e vê a nova realidade. Encaminha-se à sede e pergunta por K, e este simplesmente não existe. Conversando com O, descobre que K foi morto há 40 anos, no Cabo Canaveral, no dia do lançamento da Apolo 11 à Lua. Perguntando sobre o ARC - escudo anti-invasões alienígneas, descobre que este não existe (e fora K quem conseguira implementá-lo), e a única conclusão possível - se é que isso seja possível -  é a de que houve uma fratura no espaço-tempo, indicativa de uma viagem no tempo, em que K foi assassinado. Conjugando tal informação à de que Boris, the Animal, fugiu da prisão lunar, e a iminente invasão dos Bogadianos detectada pelos radares do MIB - que levará à extinção da Terra, conclui-se que só há uma solução - J deverá viajar no tempo (coisa que ele achava que não existia tal informação não era dada a agentes de sua hierarquia), e matar Boris antes que este consiga matar K.

J retrocede para o dia anterior ao do lançamento da Apollo XI, e inicia a busca por Boris, que vai eliminando os alienígenas que podem estar protegendo o sistema ARC, sempre um passo à frente dos agentes MIB. 
J se apresenta ao jovem K (Josh Brolin, muito bem emulando Tommy Lee Jones), que não acredita nas versões mais simples de J, e pretende neuralizá-lo, até que J resolve contar a versão mais estapafúrdia possível - embora verdadeira - de que veio do futuro, onde é seu parceiro, e que Boris, the Animal também viajou no tempo para matá-lo e impedir a instalação do ARC, possibilitando uma invasão Bogadiana e o extermínio da vida na Terra.
A última esperança é o arcadiano Griffin, um ser com a capacidade de visão de futuro, ou futuros alternativos, e de demonstrar os eventos futuros a quem encoste nele, dependendo de cada pequena opção que possa influir na seqüência dos fatos. Este está na "Factory" de Andy Warhol - e aqui temos piadas muito boas sobre os alienígenas infiltrados entre os humanos, como sempre há nos filmes da série (Lady Gaga, Elvis, Beckham, Rodman, Yao Ming, etc.), e ao presumirmos que Warhol é um ET infiltrado, vemos que na verdade ele é um agente do MIB, cansadíssimo de ser Andy Warhol, e que diz que não tem mais idéias criativas, tendo agora que, vejam só, pintar latas de sopa e bananas - o que viria, como todos sabemos, a ser grandes ícones da cultura pop em nossos dias.
Griffin, o arcadiano possui o amuleto que deverá ser colocado na Apollo XI, que ao entrar no espaço, construirá o tal escudo ARC. Há idas e vindas, com Griffin ora em poder dos agentes do MIB, ora sob custódia de Boris (o de 1969 e o de 2012, que regressou ao passado), e tudo se resolverá no Cabo Canaveral, no lançamento da Apollo.
Ali, J e K, acompanhados de Griffin, tem dificuldades em explicar a um militar negro não-identificado o intento de sua missão, e o militar só pode acreditar neles no momento em que Griffin lhe mostra o futuro, e os agentes do MIB são liberados para prosseguirem.
Já na plataforma de lançamento, há o duelo entre os Boris do futuro e do passado, e os agentes MIB. Após contratempos, J e K conseguem vencer o alienígena "duplo", colocar o ARC em órbita, e salvar a terra. Quando o desenlace parece ser o mais feliz possível, vê-se que um dos Boris sobreviveu, e ao tentar matar K, atinge, em verdade o militar, matando-o. Em seguida, J, que observava tudo à distância, sem ser visto, vê o menino, de nome James, que pergunta por seu pai. K, então, neuraliza o garoto e lhe dá apenas uma informação: seu pai é um heroi.
Muita coisa fica explicada sobre os eventos do futuro, coisas que J(ames) não sabia e que seriam a razão do comportamento duro de K. 
Voltamos ao tempo presente, J mostra a K o relógio de seu pai - que prova que ele sabe de tudo o que houve - agradece ao seu parceiro, e ainda temos Griffin prevendo um iminente desastre, a não ser que...

Nota IMDB - 6.9. É por aí mesmo. Boa diversão. 

ISTO NÃO É UM FILME (2011), de JAFAR PANAHI - 17.08.2013

Jafar Panahi, cineasta iraniano, condenado a 6 anos de prisão e a 20 anos sem o direito de voltar a filmar por suas manifestações cinematográficas anteriores, fez esse não-filme, que conseguiu sair escondido do Irã em um pen drive, é na verdade um documentário de um dia, me parece, sobre o filme que não foi feito, e as inquietações do cineasta, e, talvez se possa dizer, sobre o Irã.
Jafar convida um amigo seu, que entenda algo dos aspectos técnicos do cinema, com a ideia de ler - ou demonstrar - o roteiro cuja filmagem foi proibida pelos representantes da Revolução Islâmica.
Então, eles discutem sobre o que fazer, ler o roteiro ou interpretá-lo, e resolve encenar o filme, explicando os planos, o roteiro. Ele interpreta a primeira cena em que Myrian - a protagonista - está aprisionada em sua própria casa, em uma cidade do interior do Irã, pois a aprovada a ir à Universidade, estudar artes, mas seus pais não aprovam. Como ela está presa em casa, não chegará a tempo de fazer sua matrícula.
Panahi explica então o primeiro plano do filme. Marca em um tapete, com fita adesiva, as locações - o quarto, a sala, a entrada da casa, a escada para o quarto, a janela - e explica o primeiro plano - com duração de 6,5 minutos, diz ele - a tomada com uma vista da janela do quarto de  Myrian, sob a ótica de visão desta - de  onde ela apenas vê uma viela deserta, em que há um observador jovem constante. Dali, vê sua avô chegar, sair, e ela sempre aprisionada. Ela atende ao telefone, e ninguém fala nada, ela quebra o telefone, deita, pensa, levanta-se, cogita suicídio.
Essa explicação-encenação de Panahi me lembra muito uma cena muito boa do filme "O Último Magnata", de Elia Kazan, com Robert de Niro como o tycoon do cinema Monroe Starr, em que de Niro explica a um escritor o que é cinema, dramatizando uma cena, explicando como deve ser roteirizada um filme para prender a atenção do expectador. 
De repente, no meio da encenação, Panahi tem uma crise pessoal, parece-me que sobre o próprio cinema, dizendo que se ele pode explicar um filme, sequer lógica haveria em filmá-lo. E ainda, filmando-o ou explicando-o, tudo não passa de uma encenação, de uma mentira, em última análise, e inclusive faz remissões a filmes seus anteriores, sobre o papel do diretor, as atuações de atores amadores, que "quebram" o papel do diretor, fazem o filme por si sós, falando de uma menina que era protagonista de seu filme e desiste de filmar, pois o que representa não é a verdade. Ele fica puto, e até pára (foda-se o fim do acento diferencial) com sua tarefa. 
Entremeando essa encenação, antes e depois igualmente, Jafar pensa sobre sua situação pessoal de "condenado" pelo regime à 6 anos de prisão, 20 anos sem filmar, sem dar entrevistas, sem escrever roteiros. Fala com sua advogada sobre o improvável sucesso de sua apelação, a necessidade de pressão sobre o Judiciário - através da comunidade do cinema internacional e nacional (embora considere esta impossível, dada a difícil situação em que os cineastas iranianos se encontram frente ao regime de Ahmadinejad).
Ele ainda encenará mais alguma coisa, acho que aqui é que fala sobre o possível suicídio da protagonista, adianta o que ainda acontecerá no filme, uma conversa com a avó que não poderá mais visitá-la, uma conversa com sua irmã, o amor platônico que Myrian nutrirá pelo garoto desconhecido que permanece na viela em frente à janela que até a faz pensar em desistir de estudar em razão do amor - e que afinal será um delator - sabe-se lá de quê, não está explicado no (não)filme.
Pode-se dizer que há uma analogia certa entre a situação de muitas pessoas e o regime iraniano, a prisão, a impossibilidade de se expressar livremente, a possibilidade de existir um delator em qualquer esquina.
Jafar evita falar qualquer coisa mais séria ao telefone, se assusta quando seu companheiro é parado em uma blitz, e a condição de haver uma câmera com ele já configura uma situação de perigo, fica preocupado pois sua esposa e filha estão fora de casa na noite de ano-novo (e até os fogos de artifício são proibidos, por serem uma expressão que não encontra respaldo nas leis islâmicas, não configurando uma  manifestação religiosa - mesmo assim, ainda que poucos, há fogos, uma pequena resistência), e não se sabe o que pode acontecer nas ruas.

Quando Jafar e seu câmera estão conversando, se filmando reciprocamente, e discutindo sobre a relevância das imagens como registro histórico - e que qualquer imagem pode ser importante no contexto em que se encontram - chega um jovem para retirar o lixo do apartamento de Panahi e o foco do filme muda drasticamente. Este jovem é - coincidentemente - um estudante de Artes, no mestrado, que tem vários bicos (taxista, recolhe o lixo para ajudar o irmão, entre outras ocupações menos qualificadas), mas que mesmo às vésperas de terminar seu mestrado, tem a quase certeza de que não achará emprego. 
Jafar passa a seguir o estudante, no elevador, conversando com ele, buscando conhecer sua situação (o jovem estava no prédio quando Jafar foi preso pela primeira vez), e andar após andar, vão conversando até chegarem ao térreo, e o jovem tem de levar o lixo para fora dos portões do condomínio, momento em que ele aconselha o cineasta a não deixar os limites do prédio, porque alguém pode vê-lo e delatá-lo. Dentro dos portões, sem poder sair dali, sobem os créditos. O filme é dedicado aos cineastas iranianos, e os agradecimentos não são revelados, exatamente para não comprometer ninguém de seus colegas cineastas.

Nota IMDB - 7,5. Não sei se é pra tanto, mas é um filme muito interessante sobre o próprio cinema, sobre as pressões políticas, sobre o regime iraniano, a censura. Dou um pouco menos, um 6, digamos.

domingo, 11 de agosto de 2013

TRAMA MACABRA (1976), de ALFRED HITCHCOCK - 10.08.2013

Duas tramas paralelas iniciam o filme: 1. A "vidente" Blanche Tyler (Barbara Harris) está prestando consultoria espiritual a uma velha milionária (Julia Rainbird), às voltas com uma crise de consciência por ter feito sua irmã Harriet, há 40 anos - estamos portanto falando de meados da década de 30, eis que o filme se passa em 1976 - entregar a um desconhecido um filho ilegítimo que teve, e que arruinaria o nome da tradicional família.
Agora, perto da morte, Julia quer reparar seu erro, e encontrar o sobrinho bastardo, pois seu único parente vivo - e portanto herdeiro da fortuna familiar - prometendo a Blanche 10 mil dólares se esta ajudá-la a encontrar o seu parente, que conduzindo a "consulta espiritual" consegue arrancar de Julia algumas pistas que poderão ajudar na busca. Blanche terá a ajuda de seu namorado George (Bruce Dern), um ator frustrado, que ganha a vida como motorista de táxi - mas se fará passar por advogado para descobrir o paradeiro do herdeiro desaparecido.

2. Na trama paralela, em cena ainda sem vinculação com o quê houvera antes, uma mulher loira vai até a presença de policiais, nada fala, apenas entrega bilhetes, pega uma diamante enorme, e cumprindo um plano de fuga muito bem estabelecido, foge com a pedra. Logo saberemos que esse diamante era o preço de um resgate de um sequestro feito pela falsa loira (a morena Karen Black, vivendo Fran) e pelo seu comparsa Arthur Adamson (Willian Devane), um comerciante de joias. 

3. As tramas se misturam: George inicia suas investigações pelo herdeiro perdido, e na busca, com uma das dicas de Julia que comete inconfidências com a vidente, chega à filha do ex-chofer da família Rainbird, que teria levado o bebê embora, e chega ao nome da família Shoebride, mas que estariam todos mortos. Seguindo a pista, o "advogado" George vai ao cemitério, vê as lápides - mas a dos pais Shoebride tem uma aparência envelhecida, ao passo que a de Edward Shoebride é muito mais recente. Entrevistando o construtor das lápides, essa impressão é confirmada, e depois, nos registros públicos, vê-se que houve uma tentativa de registro de óbito sem o corpo. E quem tentou esse registro foi um tal de J. P. Maloney (o sempre coadjuvante Ed Lauter). George vai ao encontro de Maloney, e este ao ser confrontado com a informação de que ele tentara registrar o óbito de Shoebird, passa a agir de forma evasiva, e anota a placa do veículo usado por George, que pertencia a Blanche

Imediatamente, Maloney vai ao encontro de Arthur Adamson, e de cara já o chama de Edward - pronto, aparentemente temos o herdeiro dos Rainbird, mas os amigos ainda não sabem exatamente por que razão alguém quer remexer no passado, e logo resolvem que a solução é matar Blanche e George
Maloney entra em contato com o casal que investiga o herdeiro Rainbird, e diz que tem informações sobre Edward, marcando o encontro em um lugar ermo, nas montanhas de Los Angeles. Lá, em vez de encontrá-los, sabota o carro deles, e estes, ao retornarem para a cidade baixa, sem freios, batem o seu carro mas escapam ilesos. Maloney então tenta atropelá-los, mas sofre um acidente e morre.
No funeral, a agora viúva de Maloney revela a George que o tal Shoebride agora é Arthur Adamson - mas ainda é possível saber exatamente quem ele seja, pelo que resta à sortista e ao ator frustrado descobrirem, com a dica que apenas o bispo da cidade saberia qual o homem certo.
Ao tentarem contato com o bispo, durante uma missa, este é sequestrado por Fran e Arthur - mas não de forma propositada a evitar a descoberta da identidade de Arthur, mas sim para cobrar mais um resgate milionário com pagamentos em diamantes.
Sem contato com o bispo, e apenas com a lista telefônica em mãos - são muitos os homônimos - Blanche e namorado pretendem iniciar a busca, mas George é obrigado a ir cumprir seu horário no emprego de taxista, e Blanche resolve investigar sozinha. Quando descobre qual o real Arthur, ela se dirige para a residência do casal de sequestradores - não sem antes passar no emprego de George e dizer qual o endereço para o qual se dirigiria - inicialmente apenas para dizer a ele que ele pode ser o herdeiro de uma fortuna. Contudo, ao cruzar com eles, ela vê o bispo sequestrado, o que obriga os golpistas a manterem Blanche sedada e encarcerada, para matá-la após realizarem a entrega do bispo sequestrado e receberem mais uma pedra preciosa como resgate.
George, ao saber da iniciativa da sua companheira, vai a até a casa dos bandidos, consegue entrar, e quando estes retornam, os observa, vê onde Blanche está encarcerada - fingindo-se de sedada, embora consciente. Eles bolam um plano de prendê-los no esconderijo do cativeiro, que acaba dando certo. Dessa maneira, vêem seus planos se concretizarem, duplamente, a uma por terem descoberto Edward Shoebridge/Artur Adamson, a duas por terem prendido os sequestradores/ladrões de diamante, tendo direito a uma bela recompensa.
De repente, Blanche começa a receber uma "mensagem" do além, e ela vai indo em direção ao lustre da casa, onde encontra um dos diamantes objeto dos resgates. George conclui que Blanche, realmente, é uma vidente. A câmera corta para Blanche, que dá uma piscadinha para as lentes. 

Este é o último filme dirigido por Hitchcock, e esta piscadinha para o telespectador é muito legal, muito significativa de toda a carreira do "mestre do suspense". Apenas me parece que não ficou muito claro a forma pela qual Blanche soube do diamante no lustre, sendo necessário de alguma ilação a esse respeito, de que Blanche possa não ter sido sedada adequadamente, e ouvido a conversa entre Arthur e Fran, dizendo que iriam buscar mais um diamante para seu lustre. Há menções de que essa fala foi introduzida posteriormente, na edição, para deixar a descoberta mais lógica.
Um filme de algum suspense policial, mas com muito de comédia, que vale a visita.

Nota IMDB - 6.8. Por aí, talvez um pouco menos.